Pesquisa reconhece qualidade das Sementes da Paixão na Paraíba

![]() |
Agricultores/as possuem uma diversidade de sementes para diferentes fins | Foto: Gleiceani Nogueira |
Uma pesquisa participativa realizada pela Rede de Sementes da Articulação no Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) em parceria com a Embrapa Tabuleiros Costeiros comprova a viabilidade e o potencial genético das sementes crioulas, também conhecidas como sementes da paixão, da resistência, nativas ou tradicionais.
Apesar do estudo não ter sido finalizado, os resultados preliminares mostram que as variedades dos agricultores e agricultoras apresentaram desempenho mais elevado quando comparado com as sementes distribuídas pelos programas governamentais ou adquiridas no comércio de sementes certificadas.
“Existe um mito de que as variedades crioulas são inferiores às das empresas. Através dessa pesquisa, estamos comprovando que as sementes que compõem nosso patrimônio genético são muito produtivas, resistentes e adaptadas ao Semiárido e isso nos ajudará a avançar ainda mais na construção de políticas públicas”, explica o assessor técnico da ASP-TA, Emanoel Dias.
Para o pesquisador na área de agroecologia da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Amaury Santos, o resultado do estudo não é nenhuma surpresa. “As variedades convencionais que são obtidas pelos governos são feitas para uso de agrotóxicos, de adubação química, mas na hora que elas vão para um ambiente diferente, como é o caso do Semiárido, uma região que enfrenta escassez de água e onde não se usa veneno, elas não têm a mesma adaptação que as sementes dos agricultores”, explica o pesquisador.
Intitulada Ensaios comparativos e campos de multiplicação de sementes da Rede de Sementes da ASA Paraíba, a pesquisa tem como foco a avaliação e seleção de variedades locais de milho junto a agricultores e agricultoras dos municípios de Casserengue, Solânea, Remígio, Alagoa Nova, Juazeirinho, Soledade e São Vicente, localizados nas regiões da Borborema e do Cariri Paraibano.
De acordo com Emanoel Dias, a proposta vem se firmando como uma oportunidade de promover o diálogo entre o saberes acadêmico e popular, visando à construção de elementos para proposição de políticas públicas de reconhecimento e valorização das sementes crioulas.
Segundo o assessor, os resultados da pesquisa contribuirão com a elaboração de programas de distribuição de sementes que garanta a quantidade e a diversidade de variedades cultivadas de acordo com realidade das famílias agricultoras do Semiárido.
“Ao longo de milênios, as famílias agricultoras vêm se dedicado ao melhoramento, seleção e experimentação da diversidade de sementes tradicionais. Mesmo assim, elas ainda encontram enormes dificuldades de integrar essas variedades aos programas governamentais de distribuição de sementes no Semiárido”, contextualiza o assessor.
Os estados de Alagoas e Paraíba avançaram no debate das sementes a partir da criação de leis estaduais que compram as variedades crioulas para distribuir com outros agricultores e/ou fortalecer os bancos comunitários de sementes. Outra política pública importante de valorização das sementes tradicionais é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) operado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Na Carta Política do II Encontro Nacional de Sementes da ASA, a rede reafirma essa conquista ao citar que, desde 2003, mais de 536 toneladas de sementes crioulas, de dezenas de variedades locais, foram comprados nos estados da Paraíba, Alagoas e Minas Gerais, via PAA, beneficiando diretamente 23 mil famílias. Apesar desses avanços, as famílias enfrentam dificuldades de comercializar suas sementes e um dos principais motivos é a crença de que as sementes nativas não têm o mesmo valor que as transgênicas.
Resultados – Os parâmetros definidos para a pesquisa foram construídos com participação das famílias, levando em consideração que cada variedade tem seu potencial e responde as necessidades dos agricultores e agricultoras de acordo com suas características regionais e suas condições locais.
Em cada variedade foram avaliadas as seguintes características: espigas, grãos, sanidade das plantas, altura, quantidade de palha, período do florescimento, período da colheita, plantas acamadas, plantas quebradas, consórcio com outras culturas, espaçamento entre plantas e análise sensorial das variedades.
Entre as sementes crioulas, o milho jaboatão apresentou melhores resultados quando comparado com outras variedades dos agricultores. Outras espécies tradicionais estudadas apresentaram resultados superiores em comparação ao milho catingueiro, espécie distribuída no Programa Nacional de Sementes do governo federal.
A pesquisa também identificou a existência de uma diversidade de espécies de milho com características variadas: milhos mais claros, outros mais doces, com cheiro mais ou menos forte, variedades de porte alto ou baixo, variedades de produção mais rápida outras mais tardias e outras ainda estão sendo identificadas e sistematizadas.
Segundo Amaury, o objetivo da Embrapa é se aproximar cada vez mais dos agricultores familiares para atender às reais demandas das famílias. “Eu acho que o grande diferencial desse trabalho é a grande parceria que está existindo entre nós da Embrapa e as entidades que representam os agricultores como a AS-PTA, o Pólo [da Borborema], o Coletivo, o Patac e também a ASA Brasil”, ressalta.