A contribuição da ASA para mudar a realidade da pobreza no Nordeste

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No início deste mês, o Governo Federal divulgou dados sobre a pobreza no Brasil que foram noticiados em vários jornais. Nos dados, algo chama atenção – não por ser novidade, mas por averiguarmos em números uma dura realidade. Eles indicam que grande parte das pessoas que vivem em situação de pobreza extrema no Brasil encontra-se na zona rural da região Nordeste e possui até 19 anos de idade. Justamente a (maior parte da) área de atuação da Articulação no Semi-árido (ASA). Esse é mais um motivo que nos leva a refletir sobre a relevância da ação da ASA na democratização do acesso à água pelo Semiárido.

“Dados oficiais [IBGE] apontam que quase 60% dos mais pobres estão no Nordeste (9,6 milhões de pessoas) e 70,8% deles são pardos ou pretos, de acordo com o Censo 2010. O censo levantou que a população rural brasileira é de 29,83 milhões de pessoas. Nesse grupo, um a cada quatro é considerado extremamente pobre. Além disso, dentre os mais pobres, 50,9% têm até 19 anos de idade”, cita um trecho de uma reportagem divulgada no jornal Valor Econômico, no dia 4 de maio.

Numa região semiárida, o armazenamento de água gera um contraponto a essa realidade apresentada. Considerada um elemento-chave, a água no Semiárido produz riqueza e, consequentemente, vem modificando a realidade socioeconômica dessa parcela da população. E não só pela produção de alimentos que excedem ao consumo das famílias e são vendidas diretamente para os consumidores. Mas, pela relação entre água e uma nova perspectiva de educação, onde sejam rediscutidos os valores e prioridades, com foco na freqüência escolar e no aumento do grau de escolaridade, o que ocasiona um aumento da renda mensal no futuro.

Conforme dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 1994, para cada ano a mais na escola, a renda mensal do então estudante, subirá R$ 94,00 quando ele estiver trabalhando. Portanto, o aumento dos anos de estudo entre os mais pobres aponta também para um aumento do seu poder aquisitivo.

Essa lógica foi utilizada para explicar, por um lado, o fenômeno da redução de pobres no Brasil, nos últimos oito anos, de acordo com uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) a partir do Censo 2010. “Entre os 20% mais pobres, os anos de estudos cresceram 55,59%, com um avanço da renda de 49,52%. Já entre os 20% mais ricos, a escolaridade cresceu 8,12%, com aumento de 8,88% da renda”, informa um trecho de outra reportagem também publicada pelo jornal Valor Econômico de 4 de maio.

Trazendo para o campo de ação da ASA, essa mesma lógica serviu para averiguar o impacto econômico das cisternas na vida das famílias. Numa pesquisa realizada em 2007, pela Universidade de São Paulo e Ibmec São Paulo (atual Instituto de Ensino e Pesquisa), a pedido da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), parceira da ASA, verificou-se que as crianças, cujas residências tinham cisternas, frequentavam mais as aulas e não abandonavam os estudos como as que não possuíam cisternas ao lado de suas casas.

Na época da realização dessa pesquisa, só existiam cisternas domiciliares. Hoje, na paisagem do semiárido já é possível contemplar cisternas nos prédios de escolas rurais. Maiores do que as tradicionais, essas cisternas com capacidade para 52 mil litros garantem água para a comunidade escolar. A quantidade dessas tecnologias já construídas ainda é pequena, se comparada com a necessidade de abastecimento das instituições de ensino no meio rural.

Atualmente, a ASA está construindo 843 cisternas escolares. O impacto delas é inversamente proporcional à quantidade que por ora existe. Apesar de ser uma ação única e como tal não muda sozinha uma realidade de anos de desigualdade e descaso político, não há dúvida que as cisternas têm provocado uma grande revolução silenciosa na região que concentra hoje grande parte dos brasileiros e brasileiras mais pobres do país.

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