Geraizeiros resistem à invasão de eucalipto
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As famílias agricultoras da comunidade tradicional geraizeira de Vereda Funda, a cerca de 45 km da sede do município de Rio Pardo de Minas, estão comemorando. Depois de 10 anos de luta pela apropriação de seu território tradicional, finalmente o Iter (Instituto de Terras do Estado) repassou oficialmente as terras para que seja implantada a proposta de assentamento agroextrativista.
No último dia 27, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o Iter assinaram a escritura pública, porém, somente no final da semana passada a notícia foi divulgada. O território tem 4.906,6647 hectares e é avaliado em R$ 1,8 milhão. O assentamento deve ser realizado no máximo em cinco anos. Essa posse é resultado de uma forte luta das famílias e das entidades representativas dos trabalhadores rurais na reivindicação de seus direitos.
Seu Arcílio Elias dos Santos, agricultor da comunidade disse que “foi uma grande espera e só do estado ter passado a terra para o INCRA já é uma grande vitória”. Ainda sobre o mesmo assunto, Rita Conegundes, agricultura geraizeira, afirmou que “o fato do estado ter passado a terra para o INCRA trouxe mais segurança e tranqüilidade para a comunidade, pois a partir de agora o INCRA junto com a associação comunitária vai poder implantar o tão esperado assentamento agroextratista.”
A HISTÓRIA – As famílias da comunidade estão há várias gerações na terra em que o estado considerava como devoluta. Porém, há cerca de 40 anos, empresas de monocultura de eucalipto ocuparam o território, acabaram com a área de extrativismo e comprometeram a disponibilidade de água da comunidade.
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Seu Nerim, ancião da comunidade. |
De acordo com Seu Nerim, um dos anciãos da comunidade, foi uma fase triste, pois além de ter invadido as terras que há centenas de anos eram de seu povo, a plantação de eucalipto acabou secando os rios e o assoreamento acabou entupindo as nascentes. Seu Nerim relata que antes havia água em abundância na comunidade. Depois do eucalipto, eles chegaram a viver muitos anos dependendo de água da chuva ou de carro pipa. A organização religiosa da comunidade foi muito importante, já que nos cultos e reuniões eles sempre refletiam de forma crítica sobre a realidade. E foi em um destes momentos que a comunidade resolveu tomar as rédeas da situação e ir em busca de seus direitos.
Depois de muita luta, audiências, ofícios, documentos, resolveram ocupar o território, até então de posse da empresa responsável pela monocultura de eucalipto. Foram muitas batalhas, idas à capital mineira até que conseguiram fazer com que o contrato da empresa não fosse mais renovada dentro do território. Como um milagre, logo após retirar os pés de eucalipto, a água voltou a brotar e o cerrado voltou a cobrir a terra.
Porém, mesmo as famílias vivendo na comunidade há anos e a gestão do território sendo feita de forma a conservar os recursos naturais e preservar o meio ambiente, a posse da terra demorou anos para sair. Agora, a comunidade respira aliviada para ganhar forças para que mais esse desafio seja cumprido, que é de promover de forma sustentável e efetiva a gestão e reconversão do território para o extrativismo. A busca agora é garantir a qualidade de vida para todos, aproveitando os recursos naturais, respeitando o meio ambiente e os conhecimentos tradicionais.
Veja abaixo a entrevista com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rio Pardo de Minas, Elmy Pereira Soares, que também é morador da comunidade de Vereda Funda.
O que o fato representa para a comunidade?
Elmy: Representa a realização de um sonho, inicio da esperança de dias melhores, conquista da liberdade da comunidade.
Valeu a pena à luta?
Elmy: Tá valendo à pena, pois a luta continua.
Qual é desafio da comunidade agora?
Elmy: O grande desafio é conciliar produção e preservação com poucos recursos.
Fale um pouco do PAE (Projeto de assentamento agroextativista)
Elmy: O PAE está em construção. Uma de suas finalidades é aumentar a produção agroextrativista, garantindo a segurança alimentar e melhor renda das famílias, recuperar áreas degradadas e buscar um modelo de educação diferenciada que valorize a cultura da comunidade e respeite seu modo de viver e conviver com o Gerais, sem perder a qualidade da educação. Neste sentido o PAE pretende melhorar a qualidade de vida da comunidade.