Tecnologias sociais facilitam convivência da família agricultora com o Semiárido
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Biodigestor caseiro produz biogás e reduz uso de lenha por agricultores. Foto: Jucier Jorge/Arquivo Diaconia |
No agreste de Pernambuco, o biodigestor está sendo utilizado por famílias agricultoras em substituição à lenha dos fornos caseiros. Esta tecnologia, que transforma material orgânico em biogás e gera energia sem a queima de combustível fóssil, apresenta-se como uma das soluções às crises energética e ecológica que o mundo hoje enfrenta.
Disseminado por organizações da sociedade civil que fazem parte da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), o biodigestor é um dos destaques do II Encontro Nacional de Agricultores e Agricultoras Experimentadores do Semiárido, que acontece de 27 a 29 deste mês, no município de Pesqueira, em Pernambuco.
Um dos agricultores adeptos ao biodigestor é Seu Sebastião José da Silva (63) que mora na zona rural do município pernambucano de Tacaimbó. O aparato provoca uma economia R$ 40,00 por mês no orçamento familiar e evita a queima da lenha para cozimento dos alimentos. A tecnologia é uma das que ajudam Seu Sebastiãozinho a conviver de forma harmônica com a natureza mesmo no período de estiagem.
Além do biodigestor, a sua propriedade tem também uma cisterna que armazena água para consumo humano e uma cisterna-calçadão para produção de alimentos. Antes praticante da agricultura de sequeiro – milho, feijão e mandioca – e de fumo, a família de Seu Sebastiãozinho cultiva uma variedade de frutas, plantas medicinais e hortaliças. A mudança, ainda em andamento, veio com a prática das técnicas agroecológicas – um modelo de agricultura que tem como um dos princípios básicos o respeito à natureza e a valorização da sabedoria tradicional do homem do campo.
A propriedade da família de Seu Sebastiãozinho será visitada pelos participantes do Encontro, assim como outras 11 experiências de convivência com o Semiárido. Estas visitas proporcionam, além da troca de conhecimentos entre os agricultores, a disseminação do uso destas tecnologias tão importantes para a vida na região.
Programação – No Encontro, haverá também debates sobre políticas públicas para a convivência com o Semiárido. As inovações da agricultura familiar na construção de políticas públicas são tema de uma mesa redonda com representantes do governo federal e da ASA. Outra mesa, formada por agricultores e agricultoras, vai refletir o papel dos experimentadores na construção dessas políticas. Experimentadores é o nome dado aos agricultores que inovam em métodos, técnicas e tecnologias para melhor se adequarem à região.
O Encontro será encerrado com um ato público na manhã do dia 29. Cerca de mil agricultores e agricultoras se encontrarão com os participantes do encontro num cortejo pelas ruas centrais de Pesqueira. Ao final da caminhada, haverá apresentações de grupos da cultura local como bandas de forró pé-de-serra e o grupo Coco Raízes de Arcoverde.
Convidados especiais – Representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, do Governo de Pernambuco e do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) foram convidados para participar do Encontro. Agricultores que moram na região do Chaco, que abrange território da Argentina, Bolívia e Paraguai e tem características semelhantes às do Semiárido brasileiro, estão com presença confirmada.
O evento é realizado pela ASA Brasil com apoio do Ministério do desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério o Desenvolvimento Agrário, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Agência de Cooperação Espanhola, Instituto Ambiental Brasil Sustentável, Fundação Avina e Heifer.
Números do Semiárido
1133 cidades, em 95% delas (1076) a ASA tem atuação
Cerca de 900 mil quilômetros quadrados é a área – corresponde ao território da Alemanha e França juntas
22 milhões de habitantes
No Nordeste, 80% das famílias que vivem no meio rural estão concentradas no Semiárido
60% dos alimentos que abastecem o mercado interno do Brasil vêm do Semiárido
77% da mão de obra rural estão na agricultura familiar
30,5% das terras agrícolas são de agricultores familiares