Cáritas de Minas capacita agricultores/as para guardar sementes nativas
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Comunidade quilombola se reúne em torno das sementes nativas da região. |
“A semente da nossa gente é uma semente cultural, que conheço desde quando eu nasci e, hoje, nós ainda temos ela aqui no nosso brejo”, conta a agricultora Paula, da comunidade quilombola Brejo dos Crioulos, no município de Varzelândia. Ela participou da oficina “Casas da Semente da Gente”, que aconteceu no Centro Cultural da comunidade, nos dias 15 e 16 de abril.
A oficina faz parte da Campanha Semente da Gente e é uma atividade do projeto Implementação das Casas de Semente da Gente no Semiárido Mineiro, executado pela Cáritas Regional Minas Gerais, em parceria com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
No mês de abril, aconteceram quatro oficinas nas comunidades Caldeirão, município de Itinga; Mocambo da Onça, em Porteirinha; Vereda Funda, em Rio Pardo de Minas e na Comunidade Quilombola Brejo dos Crioulos, localizada nos municípios de Varzelândia, Verdelândia e São João da Ponte.
Cerca de 140 agricultores, agricultoras, representantes de sindicatos e associações participaram das oficinas, que tiveram o objetivo de capacitar os participantes em produção de sementes, gestão e planejamento para a implementação das casas de sementes.
A agricultora Paula explica que a comunidade já tem as sementes crioulas, mas tem que aprender a trabalhar com ela. “A gente tem que saber também trabalhar com a semente para não perder a nossa cultura”, conta.
Nesta etapa, o projeto pretende implementar 12 casas de sementes em comunidades rurais dos municípios de Varzelândia, Porteirinha, Alto Rio Pardo, Itinga, Rubim, Jequitinhonha, Minas Novas, São Francisco, Januária, Olhos D’Água, todos no semiárido mineiro.
Rodrigo Pires, facilitador das oficinas e assessor da Cáritas Regional Minas Gerais, ressalta que a importância do projeto é massificar do uso da semente crioula, através do resgate, seleção e melhoramento genético dessas sementes. Ele conta que, com a construção das Casas de Semente, quando acontece a primeira chuva, o agricultor terá um lugar, na própria comunidade, para pegar a semente e plantar. “Ele não precisa ficar refém de nenhum órgão do governo, nem programa social”, diz.
Rodrigo explica que o avanço do agronegócio na agricultura está ameaçando a soberania e autonomia dos agricultores e agricultoras em produzir suas próprias sementes. “As sementes hibridas e transgênicas são realidades. Elas contaminam as sementes crioulas e a legislação brasileira não tem aspectos que resguardem e assegurarem esta semente da agricultura familiar”, completa.
Edinam, agricultor da comunidade João Congo, em Varzelândia, e diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, conta que ao longo dos anos a semente crioula vem perdendo sua qualidade. Ele acredita que “há uma importância grande em se fazer o resgate dessas sementes, para que eles (os agricultores) não estejam sofrendo por ter que comprar sementes, que não sabem nem de onde é”.
Para João Pinheiro, agricultor e representante da associação comunitária do Brejo dos Crioulos, oficinas como estas são importantes, porque a semente nativa é a única que resiste à temperatura e aos fungos da região. “Essa semente transgênica que surgiu para nós não é boa, porque você planta num ano e no outro ano você já não tem semente”, explica João. Ele conta que por este motivo, a comunidade está em busca do resgate das sementes crioulas.
A Campanha Semente da Gente é uma ação da Cáritas Regional Minas Gerais com o objetivo discutir os males causados pelo uso das sementes híbridas e transgênicas, tanto na saúde, quanto ao meio ambiente e na vida das pessoas. A campanha visa denunciar o atual modelo de agricultura, com a produção de sementes híbridas, transgênicas e uso abusivo de agrotóxico, mas também divulgar as iniciativas desenvolvidas com a agroecologia e a produção de sementes nativas e crioulas. A campanha tem a parceria do Instituto Sociedade População e Natureza/ PPP Ecos e Instituto Marista de Solidariedade.