Água para as cidades?
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No último dia 28 de fevereiro, um trabalhador que com sua família é um dos ocupantes da Comuna da Terra 17 de Abril – ocupação rururbana localizada na periferia da cidade de Fortaleza – foi preso por tentativa de furto de água da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE). Por volta das 10h30 da manhã, o trabalhador que consertava uma instalação provisória de água, foi detido em flagrante por policiais militares e conduzido para 8º Distrito Policial de Fortaleza, localizado no Conjunto Prefeito José Walter.
O trabalhador ficou detido até o dia 11 de março. A assessoria jurídica e os Movimentos Sociais que compõem a Comuna 17 de Abril afirmam que não houve qualquer fundamento para prisão. Na verdade, trata-se de um processo de criminalização das ocupações urbanas e rurais, dos movimentos sociais e da luta pela efetivação dos direitos fundamentais.
A prisão por tentativa de furto de água se configura, para todos aqueles que lutam por um semiárido mais justo, como mais um sinal de que a luta pelo acesso a água ainda está longe do fim. Diversas instituições e articulações estão atuando com forte presença nos territórios semiáridos, empenhados na construção e implementação de tecnologias sociais e em processos de formação continuada com agricultores e agricultoras. Também é necessário que nos atentemos a como está o acesso a água nas cidades.
É inegável que todo o processo de construção de uma convivência com o Semiárido desacelera o ritmo cruel do êxodo rural, mas também é inegável, que a água como direito fundamental ainda é negada a milhares de famílias das periferias urbanas.
Ocupando um dos maiores latifúndios da cidade de Fortaleza, centenas de famílias, organizadas na Comuna 17 de Abril, apresentam uma grande experiência de resistência popular, na luta pelo direito ao trabalho, à moradia e à cidade. Com o tema Água para as Cidades, a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) “celebra” este ano a Semana das Águas que vai de 16 a 22 de março. A proposta é que reflitamos quanto ao impacto do crescimento urbano, da industrialização e o impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos, pensando tudo isso a partir do espaço da cidade com suas contradições.