O dilema das sacolas plásticas
Belo Horizonte – No mesmo caminho de países desenvolvidos, aos poucos o Brasil abre guerra contra os sacos plásticos. Depois de cidades do interior de São Paulo terem proibido a distribuição das embalagens em estabelecimentos comerciais, as primeiras capitais também entram na batalha. Mas um dilema se cria a partir da nova legislação: o que irá substituir as sacolinhas no vaivém de supermercados; nas entregas em domicílio de farmácias; e em outras tarefas do dia a dia que, nas últimas duas décadas, foram atribuídas quase que exclusivamente aos embrulhos de plástico?
Apresentado como solução moderna e prática nos anos 1980, esse tipo de sacola se tornou um dos vilões do meio ambiente. Estudos comprovam a nocividade das embalagens, dada a sua lenta degradação – levam até 500 anos para se decompor – e os prejuízos que podem causar ao meio ambiente. Nas grandes cidades, contribuem para inundações; nas regiões litorâneas, são responsáveis pela mortandade de tartarugas, peixes e outros animais aquáticos, que confundem o saco com alimentos e o ingerem.
A partir de então, europeus e norte-americanos decidiram reduzir a circulação das embalagens. No Brasil, pouco a pouco, prefeituras criam medidas para coibir o uso. Resistente à abolição das sacolinhas, a indústria do plástico decidiu criar um outro modelo, mais resistente e com processo de decomposição muito mais rápido. A promessa é de que, em apenas seis meses, as chamadas sacolas oxibiodegradáveis se decomponham completamente .
Estudo do Instituto Plastivida – entidade que representa institucionalmente a cadeia produtiva do setor -, porém, desmistifica a teoria e a define como uma vilã ainda mais perigosa para a natureza. Na presença de luz, a embalagem oxibiodegradável sofre reações na cadeia polimérica e se transforma em pequenos fragmentos, de 1cm a 2cm quadrados, que são lançados no ambiente e causam problemas ainda maiores que a sacola tradicional. O produto chegou a ser adotado por redes de supermercado, mas praticamentetodas as retiraram dos caixas ao saber do prejuízo. ´Deixa de ser sacola fisicamente, mas está bem presente no meio ambiente`, afirma a assessora técnica do Instituto Plastivida Silvia Rolim.
Diferentemente das sacolas tradicionais, as chamadas oxibiodegradáveis recebem um aditivo químico para acelerar o processo de pulverização, sendo lançadas no meio ambiente aleatoriamente, sem qualquer preocupação com sua destinação. ´O importante é eliminar o consumo excessivo de sacolas, consumindo só o estritamente necessário e reaproveitando o máximo possível, mas as oxibiodegradáveis vão contra essa lógica. É um mal conceitual espantoso`, avalia Silvia.
Proibição – A partir da difusão das informações contrárias aos sacos plásticos, países europeus e norte-americanos tomaram medidas de controle do uso. Estimativas indicam a produção de pelo menos 1 trilhão de unidades por ano – no Brasil, são cerca de 20 bilhões/ano. Seguindo o exemplo desses países, Jundiaí e Piracicaba, ambas no interior paulista, foram as primeirascidades a vetar a distribuição de sacolas. Em 2008, a Prefeitura de Belo Horizonte sancionou projeto semelhante, dando prazo de três anos para que os estabelecimentos comerciais se adaptassem à nova lei. O período se esgota em 28 de fevereiro e, a partir de março, tem início a fiscalização. A legislação prevê cinco tipos de penalidade, inclusive com a possibilidade de interdição do estabelecimento e cassação do alvará de funcionamento, em caso de descumprimento.
Belo Horizonte será a primeira capital a tentar banir as sacolas plásticas. Na capital mineira, lanchonetes, lojas de roupa e farmácias já se adaptaram à obrigatoriedade, mas as redes de supermercado – maiores distribuidores dos sacos plásticos, com 1 bilhão por mês em todo o país -, contrárias à medida, dão sinais de que nada farão, menosprezando as punições. Rio de Janeiro e Porto Alegre também chegaram a criar leis, mas foram vetadas por inconstitucionalidade (os textos impunham o tipo de embalagem que seria entregue nos caixas). São Paulo também corre atrás de normas próprias e projeto de lei tramita na Câmara Municipal.
Volta ao papel – Um passo no passado em benefício do futuro. Distribuída nos supermercados até o fim do anos 1980, a sacola de papel perdeu espaço com a entrada do plástico, mas, dada a maior preocupação com questões ambientais, o retorno do papel pode ser uma solução. Estudos feitos nos Estados Unidos mostram que dois sacos de papel substituem até 14 unidades de plástico. As redes de supermercado justificam a resistência em adotar as novas embalagens pelo custo elevado. Cada unidade pode custar até 10 vezes mais que uma de plástico. ´Há desperdício no uso da sacolinha. No comparativo um por um, o preço do papel é maior mesmo, mas é preciso comparar com o número de sacos que são tirados de circulação`, explica o presidente do Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel e Papelão de Minas Gerais (Sinpapel-MG) e da empresa Imballaggio, Antônio Eduardo Baggio.
Defensor do uso dos sacos de papel, ele acredita ser a maneira mais viável de substituir o plástico sem necessidade de mudança radical do comportamento dos clientes. ´A única diferença é no modo de carregar as compras. Em vez de se levar várias sacolas pela alça, as compras serão levadas nos braços. Igual se vê em filmes`, reitera. Diferentemente disso, as sacolas de ráfia e lona requerem que o consumidor saiba de antemão que vai às compras e carregue consigo, no carro ou na bolsa, uma unidade das chamadas ecobags, ou sacolas ecológicas. Caso contrário, toda vez que for ao supermercado será preciso pagar por uma sacola nova.