Norte de Minas diz não à hidrelétrica de Belo Monte
Esta foi a posição dos representantes dos movimentos sociais que organizaram hoje, dia 8 de fevereiro, um ato público na praça Dr. Carlos em Montes Claros. Eles manifestaram apoio aos Povos do Xingu – indígenas, ribeirinhos e atingidos por barragens – que vem lutando contra a instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A região Norte de Minas prestou esta solidariedade através de lideranças de comunidades tradicionais, de entidades ambientalistas, sindicais, pastorais, estudantis, eclesiais e de luta pela terra.
Se instalada, Belo Monte será a terceira usina hidrelétrica do mundo. Para os índios, ela representará a destruição do ecossistema que garante a vida de centenas de comunidades indígenas e tradicionais de uma das maiores reservas do país. Provocará a perda da cultura e a expulsão dos jovens de seus territórios para as grandes cidades. O ato que aconteceu em Montes Claros foi simultâneo ao movimento que aconteceu na mesma hora em Brasília.
Na capital federal representantes dos Povos da Reserva Indígena do Xingu entregaram à Presidência da República um documento com 500 mil assinaturas e um abaixo assinado de 30 especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Pará e a Universidade de São Paulo, com argumentos científicos que desaconselham a obra.
Braulino Caetano dos Santos, coordenador da Rede Cerrado, que visitou o território indígena do Xingu, afirma: “Eles mantém a tradição de seus ancestrais. Quando nasce uma criança, eles plantam 50 pés de pequi pra que aquela criança tenha o que comer quando crescer. Lá, tem uma das maiores reservas ambientais do Brasil” relata Braulino.
O representante da Rede Cerrado ainda denuncia a ação do sistema capitalista nos territórios dos povos tradicionais. “Todas as comunidades tradicionais têm sofrido a ação do capitalismo selvagem. Aqui, no Norte de Minas, as comunidades geraizeiras, que vivem na região da Serra do Espinhaço, no Alto Rio Pardo, enfrentam um problema parecido: são encurralados pela monocultura do eucalipto, e agora pela mineração que pode destruir o que resta de suas águas. Temos também os quilombolas encurralados pelo gado, os vazanteiros expulsos de suas terras para a criação de parques, os índios Xakriabá com a ameaça de uma rodovia em seu território tradicional, e por aí vai. Ao redor de Montes Claros tem as cascalheiras, que ameaçam as três nascentes que abastecem a cidade”, relata Braulino.
Para Bruno Diogo, do Movimento Sem Terra (MST), é preciso explicitar o modelo de desenvolvimento que queremos. “É o momento de dizermos um basta à ação do agronegócio, à degradação ambiental, à expulsão dos povos e comunidades de seus territórios tradicionais. Queremos um desenvolvimento que respeite o meio ambiente, que leve em conta a sustentabilidade”, reforça.
Aliança campo e cidade – Representantes dos movimentos estudantis e eclesiais também participaram do ato. Flávia Almeida, representante do Conselho Diocesano de Leigos, salientou que estamos unidos entorno de uma mesma bandeira de luta.
“Estamos a favor da vida, contra a morte. Esse modelo gera a morte das pessoas, da natureza, fere os princípios da dignidade humana”, relata.
O ato público foi convocado pela Rede Cerrado e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e contou com o apoio e a solidariedade de estudantes, professores, e sindicato de trabalhadores. Participaram também representantes do Centro de Agricultura Alternativa (CAA/NM), do MST, Assembléia Popular, da Articulação no Semiárido Mineiro (ASA Minas), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Conselho Diocesano de Leigos, Pastoral do Menor, Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), dentre outros movimentos populares.