Mineração de ouro gera insegurança e dúvidas em Riacho dos Machados

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Audiência pública mobilizou movimentos sociais e população de Riacho dos Machados

Muitas dúvidas e insegurança, isso é o que ficou claro último dia 02, quarta-feira passada, durante a Audiência Pública que foi realizada no município de Riacho dos Machados, no Norte do estado de Minas Gerais sobre o processo de implementação da Mineradora Carpathian Ltda. A Audiência foi solicitada pela Prefeitura Municipal e o Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente (Codema) para que a empresa pudesse esclarecer uma série de indagações da população riachense tem em relação ao projeto.

Em uma escala que vai de 1 a 6, que classifica o potencial poluidor de um empreendimento, o projeto da mineradora é classificado como um empreendimento classe 6, nível máximo, sendo assim, reconhecido como de alto risco de contaminação. Após ter conseguido a Licença Prévia (LP) que garante permissão para estudos locais, agora a população e o poder público de Riacho dos Machados se sentem ameaçados com os riscos e impactos que a exploração do minério pela empresa internacional pode causar.

Uma das grandes preocupações são os riscos de contaminação pelo cianeto, um composto químico altamente venenoso e solúvel em água que pode vir a contaminar os rios e lençóis freáticos. Além do cianeto, a exploração do ouro libera o arsênio, uma substância química altamente venenosa que contaminar o ar e a água. O arsênio é cancerígeno e age no organismo das pessoas de forma silenciosa. Um artigo publicado na revista virtual Polo Mercantil confirma esta preocupação:

Na tabela periódica, composto de cianeto é um dos extremamente tóxicos e compostos muito mortal, tanto para humanos e para o ambiente. Durante o processo de mineração Cyanide quando é usado, os trabalhadores sempre estão em alto risco de exposição a concentração de hidrogênio do gás cianeto após a libertação acidental, que também afeta seriamente a comunidade do entorno e do meio ambiente. … se liberados durante um acidente pode causar danos irreversíveis a muitas espécies de animais e plantas e também aos seres humanos[1]

Além dos riscos ambientais e para a saúde, outro questionamento foi sobre a afirmação de que a empresa iria contratar mão de obra local e que também iria movimentar a economia do município. Mas, pelos depoimentos, não é isso o que está acontecendo. Sebastião Oliveira representante dos comerciantes do município não se conteve ao falar “aproveito aqui para demonstrar a situação de isolamento dos comerciantes e afins em relação à aquisição de produtos de toda natureza pelos representantes comerciais dessa empresa [mineradora].”

A agricultora do Assentamento Tapera, Elisângela de Aquino, representante do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA/NM) falou da importância de que todas as pessoas tenham clareza e compreensão dos riscos e ameaças do projeto. Emocionada, ela indagou ao poder público municipal: “Se há tanta dúvida e preocupação com esse novo projeto que vai empregar no máximo 250 pessoas, porque não se dá mais atenção para o que já existe de valor no município, principalmente para a agricultura familiar que hoje emprega diretamente mais de duas mil pessoas do município?”

Elton Mendes Barbosa, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha e representante da Articulação no Semiárido Mineiro (ASA Minas) expressou as mesmas preocupações para o plenário lembrando-se que as principais condicionantes que foram incorporadas no processo de licenciamento aconteceram depois da mobilização realizada pelas entidades do Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Norte de Minas, do qual também participa o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Riacho dos Machados. Segundo ele o projeto de mineração do ouro em Riacho dos Machados vai impactar diretamente outros municípios como Porteirinha e Janaúba.

A prefeita Domigas da Silva Paz refletiu sua posição anterior à vinda da mineradora: “quando a empresa vem a gente fica com tanta expectativa que só lembra as coisas boas e esquece que um dia a empresa vai embora e vai ficar os buracos e muitas mães com os filhos nos braços sem pai”.

A Mineradora, que teve seus representantes na mesa de honra, tentou responder às perguntas que foram feitas pelas participantes e lideranças mas, as pessoas que saíram da audiência estavam com mais duvidas e preocupações do que quando entraram.

 

* Helen Borborema é Comunicadora Popular da ASA 

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