Lição de vida nas ondas do rádio

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Francisco Borges de Lima, Fransquim como é conhecido, tem 51 anos, nasceu em 13 de julho de 1959, na comunidade de Cajazeiras, no município de Campos Sales – CE. É deficiente visual, o que não impediu de criar uma Radio local com recursos próprios e com 100% da audiência na comunidade.

A radio foi criada em 2000 e sua sede foi reformada em 2009, transformando um espaço que a família utilizava para guardar objetos, mercadorias, e a produção da agricultura da família em um sonho.

A radio Sertão Fm 96.6, tem um transmissor de 4 Mhz com alcance de 9 a 10 km e uma programação de domingo a domingo das 7h às 23h.

A programação obedece a pedido dos ouvintes. A comunicação entre ele e a comunidade é feita através de um telefone celular. Conta com a ajuda de seu irmão Geraldo Borges de Lima que tem a mesma limitação e muita força de vontade. Geraldo fez curso de informática básico e baixa da internet as musica que fazem parte da Audioteca da radio. A radio também é prestadora de serviços a população, como informes, recados, convites para eventos e etc.

As despesas da radio é toda paga com recursos que saem da aposentadoria que Fransquim recebe. Para ele é um prazer poder realizar um sonho no quintal de casa, perto do seu pai da sua mãe e com a ajuda do seu irmão. Para a comunidade é um orgulho ter um artista que ensina todo dia a população uma lição de vida nas ondas do radio.

Geraldo Borges de Lima, tem 33 anos, nasceu em 25 de Maio de 1977, na comunidade de Cajazeiras, no município de Campos Sales – CE. É deficiente visual, e essa limitação não lhe tirou o interesse por livros, historia, estudos. Na oportunidade de morar em Brasília com um dos seus irmãos foi estudar no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais onde ficou por quatro meses, tendo que retorna a Campos Sales devido a problemas de saúde de seu pai.

Em 2006 retornou a Brasília e através de um amigo conheceu o curso de informática no INTEGRE – Instituto de Integração Social, onde cursou informática básica durante quatro meses. Geraldo montou seu próprio computador com a ajuda desse mesmo amigo que é técnico em informática.

Com seu irmão Fransquim, nos mostra o quanto as barreiras se tornas pontes quando o sonho é maior que as dificuldades. Com inteligência e vontade, um apóia o outro e os dois juntos constroem uma historia que precisa não só ser vista e ouvida, mas sentida por todos e todas.

ENTREVISTA COM FRANCISCO BORGES DE LIMA – FRANSQUIM

História de vida
Fransquim:
A vida sempre foi difícil por conta das minhas limitações, mais nunca gostei de ficar parado sem fazer nada. Comecei a trabalhar cedo em atividades como servente de pedreiro, na luta com as criações, cortando até lenha. Tenho 10 irmãos, um deles com a mesma deficiência minha, e a maioria mora fora, em outras cidades e estados, mais sempre ajudam a nossa família, meu pai, minha mãe que já são idosos.

Preconceito
Fransquim:
Sofri muito preconceito e ainda hoje sofro, eu sei que não é todo mundo que tem preconceito comigo, mais sei e sinto que existi isso. Sempre tem aqueles quem tem medo de chegar perto de falar, como se eu fosse um monstro ou algo do tipo.

E a limitação te impede de alguma coisa?
Fransquim:
Existem coisas sim que eu não consigo fazer, mas faço coisas normais e comuns, ando de bicicleta, ando pela comunidade visitando os amigos livremente, gosto de fazer qualquer tipo de trabalho, mais ficar parado é o que nunca gostei.

E paixão pelo rádio surgiu quando?
Fransquim:
Sempre gostei de radio, desde criança, brincado com o telefone sem fio, feito com uma linha e duas latas nas extremidades. Com o passar do tempo comprei um microfone sem fio para cantar, uma coisa que eu gostava muito, mas reconheço que não tenho talento para a musica, mais tarde comprei um transmissor e assim fui dando seqüência sempre indo em rumo ao que sempre gostei. Mas sempre gostei de radio.

E qual o nome da rádio?
Fransquim:
Sertão Fm, 96,6. O nome é em relação a região que nos vivemos, um verdadeiro sertão.

Qual a maior dificuldade que você encontrou para montar a radio?
Fransquim:
A falta de energia que tornava tudo mais difícil, depois que chegou energia a nossa comunidade em 1998 melhorou, tornou um pouco mais fácil a transmissão. Hoje tenho um transmissor muito, embora de pouco potencial e alcance, em um raio de cerca de 9 a 10 km de distância, me dando a chance de me comunicar com muito mais pessoas e de comunidades diferentes. E estou sempre acompanho a evolução dos aparelhos de radio, em especial os microsistem que já possui 3, sendo que dois já foram por não acompanhar a evolução da tecnologia e por não agüentar o dia a dia da radio, que tem a programação de domingo a domingo das 07:00h da manhã as 10:00h ou 11:00h da noite.

E qual a programação da radio?
Fransquim:
 É o dia todo tocando musicas pedidas pelas pessoas da comunidade, e também tem avisos e pedidos das comunidades. É uma programação vasta com todos os tipos de musicas, de acordo com as ligações e pedidos do publico. Eu prefiro e sempre gostei de musicas como Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Dominguinhos mais sempre sou critica pelos ouvintes que ligam e pede pra eu trocar essas musicas e tocar só musicas mais atuais.

E a Sede da radio como foi construída?
Fransquim:
A Sede da radio foi reformada em 2009, transformando um espaço que a família utilizava para guardar objetos, mercadorias, e até a produção da agricultura da família.

Qual o papel do radio na sua vida em relação ao preconceito?
Fransquim:
O radio foi uma porta pro mundo pra mim, foi o meio mais amplo, simples e fácil que eu encontrei para me comunicar e se relacionar com as pessoas, e alem de ser o que eu gosto de fazer, me sinto bem fazendo isso.

Como você faz para obter as musicas?
Fransquim:
Conto com a ajuda do meu irmão, que tem a mesma deficiência que eu tenho, mais fez curso de informática básico, ele consegue as musicas através da internet, mais quando ele não encontra na internet pedimos para alguém comprar.

E o incentivo para manter a radio vem de onde?
Fransquim:
Eu banco tudo com a aposentadoria que recebo, nunca recebi ajuda de ninguém nessa questão financeira, mais faço tudo e invisto por que eu gosto, por que isso não é só um lazer e prazer meu mais é um bem que serve para toda a comunidade que consigo chegar , e com isso já vai 10 anos de rádio.

Ouviu alguém falar que essa sua idéia da radio não ia dá certo?
Fransquim:
Ouvi falar sim, e o povo ainda tirava brincadeiras, mais nunca ligou pro que o povo falava por que acreditava e ainda acredito no meu sonho que já foi realizado em partes.

E o qual o outro sonho que ainda tem em relação a radio?
Frasnquim:  M
eu sonho é de legalizar a minha radio,  por isso que não faço qualquer tipo de anuncio publicitário, e até já fui procurado pra isso por lojas da cidade, mais faço apenas o básico, toco as musicas que as pessoas pedem e faço o serviço de utilidade publica, servindo aos movimentos e organizações sociais como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Secretaria de Agricultura, EMATERCE, as associações das comunidades e qualquer tipo de utilidades desse tipo.

Com a legalização pode vir a aumentar o raio de alcance da radio?
Fransquim:
Com certeza, hoje tenho o transmissor de apenas 4w, mais tenho vontade de quando legalizar comprar um de 10, o que vai aumentar muito o alcance da minha radio.

ENTREVISTA COM GERALDO BORGES DE LIMA

Como é essa sua busca pela educação?
Geraldo:
sempre gostei de escutar as pessoas lendo livros, textos, informações, mais por causa da minha deficiência não podia ter acesso a esses conteúdos. Foi quando tive uma chance de obter esse acesso a educação quando um dos meus irmãos que mora em Brasília me falou do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais. Gostei da idéia e fui para Brasília sendo que passei quatro meses, e voltei pra cá por causa de problemas de saúde de meu pai.

Passou os quatro meses freqüentando esse centro de ensino?
Geraldo:
Não, passei a freqüentar o centro de ensino depois de um mês que eu já estava lá, passei apenas três meses. Gostei muito de Brasília tanto que retornei uma segunda vez ainda em 2006 e um amigo meu que conheci lá me falou de um curso de informática no INTEGRE – Instituto de Integração Social. Interessei-me e iniciei o curso de informática básica de setembro a dezembro.

Qual a maior dificuldade que encontrou no curso?
Geraldo:
Senti muita dificuldade para acompanhar o ritmo dos outros alunos que tinha deficiências diferentes da minha, e senti mais dificuldade ainda foi em relação ao transporte  e deslocamento, já que eu ia sozinho para o instituto que ficava cerca de 30km de distancia de onde eu morava com meu irmão.

Como são os programas que você utiliza?
Geraldo:
Bom, eu não tinha computado ainda, mais através desse amigo me falou do instituto, eu montei meu computador com ajuda dele, ele é técnico em informática, compramos as peças e montamos juntos. A partir daí tive que adquirir programas especializados para minha deficiência, desde o sistema operacional a programas de edição de texto entre outros, que a maioria deles tem funcionalidades e comandos narrados para facilitar.

E em que a informática tem te ajudado no dia a dia?
Geraldo:
Ajudando a radio do meu irmão, onde eu posso baixar e gravar CDs. A informática também tem me ajudado muito na questão do ensino e na busca pelo conhecimento, baixo vários livros narrados das mais diversas áreas do ensino desde livros de anatomia até livros de filosofia e da literatura brasileira. Sempre tive o sonho de ter acesso ao ensino e a informática me deu essa oportunidade.

E aqui no seu município o que você tem feito em busca desse acesso a educação?
Geraldo:
Corro atrás de ensino especializado na câmera dos vereadores, mas nunca tenho respostas. Outra tentativa minha foi em conversa com o promotor da cidade e ele me indicou uma escola no Crato, o Polivalente mais sem sucesso.

E em resposta essas dificuldade o que você faz?
Geraldo:
Agradeço a Deus por tudo conhecimento que ele me proporcionou através da informática em busco sempre o conhecimento, a educação através da informática.

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