Júri escolhe os três ganhadores da primeira edição do Prêmio Odair Firmino
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Os três vencedores do concurso do Prêmio Odair Firmino de Solidariedade já foram escolhidos. Na semana passada, os sete integrantes do júri, representantes de organizações não governamentais e do governo federal, reuniram-se em Brasília para avaliar 14 experiências pré-selecionadas por júris regionais organizados pela Cáritas Brasileira, dos quais escolheram as três vencedoras.
A revelação dos premiados e a entrega dos troféus vão ocorrer no dia 25/11, no auditório da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Das 27 experiências inscritas, 14 foram selecionadas, dessas últimas, três foram premiadas e todas as selecionadas vão receber o título de Honra e Mérito. O Prêmio Odair Firmino faz parte da Semana da Solidariedade – evento anual de comemoração do aniversário da Cáritas Brasileira que, em 2010, completou 54 anos.
De acordo com o assessor e membro da Coordenação Colegiada do Secretariado Nacional da Cáritas Brasileira, Luiz Cláudio Lopes da Silva Mandela, apesar da dificuldade para escolher apenas três dentre as várias experiências inscritas, as selecionadas apresentaram forte traço de resistência, protagonismo e de solidariedade, princípios que a Cáritas quer divulgar com o Prêmio.
Uma das experiências selecionadas é exemplo de atividade desenvolvida coletivamente em área urbana. As outras, também coletivas e advindas do meio rural, são exemplos de perseverança, protagonismo comunitário e de respeito a natureza. “Refletem os ideais da Cáritas e de Odair Firmino, que lutou durante toda a vida pela inclusão social da população abandonada, vítima da violação de direitos humanos”, disse Mandela.
Segundo ele, das 27 experiências inscritas, 14 foram selecionadas e, por fim, três premiadas. O júri, formado por representantes de organizações não governamentais e do governo federal, atuou sob a coordenação da Cáritas Brasileira e escolheu duas comunidades do Nordeste e um grupo do Sudeste para ocuparem os três primeiros lugares.
Multiplicação – Mandela disse que um dos objetivos da premiação é o de transformar as experiências premiadas em instrumento multiplicador de estratégias de resistência, de defesa de biomas e do meio ambiente, de desenvolvimento local e defesa das culturas regionais.
Formado por representantes da Fundação Luterana de Diaconia, da CNBB, do Instituto Marista de Solidariedade (IMS), da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (Senaes/MTE), da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), os jurados reconheceram a importância do prêmio e sugeriram o prosseguimento e o fortalecimento dessa iniciativa.
Na avaliação do integrante do júri, cunhado de Odair Firmino, Francisco Cristiano Bezerra, o mais interessante dessa premiação é que foi uma seleção abrangente. “Envolveu projetos que vão desde agricultura, cultura, saúde até reciclagem de lixo. Não ficou só em cima de reciclagem de lixo e de pequenos projetos. Foi uma coisa que variou de poço artesiano a meio ambiente. Foi bem amplo”, disse.
Bezerra disse que a criação do Prêmio foi um reconhecimento do trabalho do Odair Firmino e afirmou que o prêmio é a cara do ex-dirigente da Cáritas. “Ele sempre esteve do lado dos oprimidos. Ele era uma bandeira desse segmento social”, declarou.
O representante da Fundação Luterana de Diaconia, com sede em Porto Alegre, Dezir Garcia, parabenizou a Cáritas pela iniciativa. “Afinal de contas, diante da violação de tantos direitos, uma entidade promover um prêmio para quem incansavelmente lutou na defesa do pequeno, do fraco, do marginalizado, do negro, da mulher, do índio, como o fez Odair Firmino, isso merece destaque”, afirmou.
Sintonia – Garcia destacou o fato de que, apesar de o júri não se conhecer, houve uma afinidade e uma grande sintonia entre os jurados na seleção e na priorização dos primeiros colocados. “Interessante que mesmo a Cese, cujo representante não pôde vir, coincidiu com a indicação do primeiro lugar, uma experiência do Nordeste que nos mostra uma espécie de reedição da luta de Davi e Golias, ou seja, a luta entre agricultura familiar e agronegócio.
“Uma das premiadas é uma comunidade tradicional que está lutando bravamente para se manter fiel à tradição e à própria cultura e, a partir dessa luta, mostrar que é possível resistir, conservar e viver dignamente sem ser atropelado pelo agronegócio que de Norte a Sul está a excluir e a marginalizar comunidades”, acrescentou Garcia.
Segundo ele, a concessão do prêmio para um projeto com as características dessa comunidade é a demonstração de que outros locais em outras regiões do país também podem resistir, “uma vez que comunidades tradicionais existem em todo o país e é preciso evidentemente incentivar para que essas comunidades consigam preservar o patrimônio cultural, ético e étnico das suas comunidades”, explica.
Outra experiência simbólica, segundo Garci, foi escolhida “porque no momento em que a agroecologia está com dificuldade de se posicionar em alguns lugares, ela se tornou manchete de jornal e alguns grupos estão se apoderando dela, o projeto escolhido mostra a preservação daquilo que originalmente deveria ser preservado, que é a tradição, como, por exemplo, a luta contra os transgênicos e a defesa do pequeno agricultor, das sementes crioulas e a do patrimônio histórico-cultural brasileiro”, disse.
Uma outra experiência, também emblemática da luta pela inclusão social e da experiência econômica coletiva, foi escolhida no meio urbano. Trata-se de uma experiência desenvolvida por moradores de rua de uma grande cidade. De acordo com Garcia, ela representa uma categoria social vítima das relações de exclusão existentes nas grandes metrópoles. “Embora seja um prêmio para uma organização tradicional, histórica, que Odair Firmino conheceu muito bem,entendemos que essa população merece cuidados porque é portadora de direitos, porém, a própria condição de estar na rua já é uma violação de direitos humanos”, esclarece o representante da Fundação Luterana de Diaconia.
Ele aconselhou a Cáritas a continuar promovendo o prêmio. “Mas precisa dar visibilidade a ele e ampliar ainda mais sua divulgação. Percebemos que dos 14 projetos pré-selecionados, alguns estavam fora dos critérios porque encaminharam os projetos sem se deterem adequadamente naquilo que era o regulamento preestabelecido”, criticou.
A representante da Senaes/MTE, Kássia Prado, disse que esse é o setor do ministério que concentra mais de 80% dos convênios de apoio às iniciativas de economia solidária. “Enquanto representante de uma secretaria do governo que quer trazer para dentro da esfera pública essas iniciativas dos pequenos grupos, dos marginalizados, dos excluídos, abandonados pelo Estado e pela sociedade, a gente quer empoderar esses grupos é uma honra poder participar do júri”, disse.
Ela disse que uma das características mais importante do prêmio é que ele pretende dar maior visibilidade aos grupos de economia solidária. “A gente acha a iniciativa da Cáritas é muito importante e esperamos fazer sempre parte deste prêmio. Esperamos também que essa iniciativa se torne cada vez maior e mais forte”, declarou.