Projeto Cisternas nas Escolas promove discussão sobre educação do campo em Minas Gerais
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O debate sobre a educação contextualizada está ganhando novo fôlego no Semiárido. A proposta é da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) através do Projeto Cisternas nas Escolas. Além de levar água para as escolas rurais, o grande objetivo do projeto é discutir a educação do campo de forma propositiva, dentro das ações de formação e mobilização para a convivência com a região.
No Semiárido mineiro, o projeto já está colhendo seus primeiros frutos. No município de Ninheiras, a partir da Capacitação de Gestores e Educadores para Convivência com o Semiárido prevista no projeto, o vereador e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, Orlando Rocha do Egito, se prontificou a apresentar uma Emenda que complemente à temática dentro da Lei Orgânica do município. O objetivo é regularizar a educação do campo, baseada no artigo 28 da Lei de Diretrizes e Base- LDB. Conforme Orlando, a proposta será apresentada na Câmara Municipal de Vereadores no próximo dia 23.
Durante a capacitação também foi construído pelos participantes uma Carta Proposta que será entregue aos gestores municipais colocando as angústias, os desafios e os anseios das organizações e movimentos sociais no que diz respeito à educação do campo. Natália Almeida, coordenadora do projeto pelo Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA- NM) afirma que essa iniciativa é uma oportunidade de pautar com os jovens, professores e toda a comunidade escolar a questão da convivência com o Semiárido.
A secretária de Educação do município de Porteirinha, Maria Dolores Pereira Araújo, foi uma das primeiras a assinar a Carta Proposta, se comprometendo a se dedicar sobre o assunto e a se empenhar para que a Lei Orgânica Municipal seja alterada, incluindo o artigo da LDB que trata sobre o assunto. “Sou secretária de Educação do município, mas tenho minha experiência pautada ao longo dos meus 28 anos na educação urbana”, ressaltou.
Para o diretor da Escola Dona Gercina Alves Vilasboas, Renaldo Lopes Oliveira, da comunidade do Tanque, a educação contextualizada para o Semiárido deveria começar desde a infância e cita o exemplo: “meu filho tem 2 anos. Ele ama pintinho, passarinho, boi, plantinhas, mas sei que quando começar a freqüentar a escola vai ter a cabeça voltada para outras coisas e deixará de dar atenção à natureza”.
Marilene Alves, a Leninha, da Coordenação Executiva da ASA pelo estado de Minas Gerais, reforça o entendimento da ASA acerca das tecnologias sociais como instrumento importante na discussão da educação do campo no Semiárido. “A ASA entende que para dar continuidade e discutir de uma forma mais organizada a educação contextualizada é importante ter um projeto concreto direcionado para essas unidades escolares. A construção de cisternas de captação de água da chuva nas escolas é a porta de entrada para que as crianças, o corpo escolar e a comunidade possam discutir outros elementos da educação contextualizada”, reforça Leninha.
Em Minas Gerais o projeto prevê a construção de 107 caixas, como são chamadas as cisternas no estado. Na região de abrangência da UGM CAA/NM serão construídas 37 caixas em escolas rurais dos municípios de Janaúba, Porteirinha, Riacho dos Machados, Monte Azul, Taiobeiras, Ninheira e São João do Paraíso, dentre essas, duas escolas são quilombolas.
*comunicadora popular da ASA – Porteirinha – MG
** Assessoria de Comunicação – CAA/NM – MG