Banco de Sementes: independência do pequeno agricultor

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No Planalto da Borborema, uma mobilização iniciada em 1993 até hoje é sinônimo de renda e autonomia para pequenos produtores rurais do agreste da Paraíba.

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Sindicatos de trabalhadores rurais e associações de pequenos produtores reunidos no Pólo Sindical e das Organizações da Agricultura Familiar da Borborema, ou simplesmente, Pólo da Borborema, é responsável por organizar a luta e a resistência dos camponeses da região Assim foi construída uma das principais trincheiras da agricultura familiar no Brasil.Os agricultores do estado da Paraíba passaram por momentos difíceis antes da organização dos bancos de sementes. Antes de organizarem seus próprios bancos, as sementes estavam concentradas nas mãos de poucos fazendeiros. Muitas vezes, os pequenos agricultores tinham que firmar parcerias com os grandes fazendeiros para a plantação. Isso criava uma dependência do poderio econômico e político da região.O coordenador do programa de desenvolvimento local do Agreste da Paraíba da AS-PTA e membro da coordenação-executiva da articulação do Semi-Árido brasileiro, Luciano Silveira, explica a relação política desenvolvida em torno das sementes.“Na história da agricultura no Semi-Árido, a fragilidade com que as famílias foram expostas a esse modelo mais conservador, fez com que na trajetória política se estabelecesse relações de clientelismo, de dependência. Semente e água sempre foram moedas de troca. O poder local sempre exerceu relações dominadoras e de subordinação pela dependência que as famílias tinham de água e semente. O trabalho que é feito aqui é um trabalho de autonomias locais e sementes e água são recursos essenciais para a convivência com o semi-Árido.”Segundo Luciano, antes da consolidação dos bancos, os técnicos agrícolas do governo desvalorizavam as sementes camponesas. Diziam aos agricultores que eram grãos que não tinham germinação. Com isso, os camponeses desistiam de plantar suas sementes e recorriam ao chefe político e econômico local.“O trabalho desenvolvido aqui na Borborema resgatou a história da tradição local, e também experiências de organizações comunitárias promovidas pela Igreja na década de 1970, que estimularam bancos de sementes comunitários.”Hoje o Pólo da Borborema tem na sua base 82 bancos de sementes comunitários. Em todo o estado da Paraíba são aproximadamente 220 bancos. Assim como o banco das sementes, o “Programa 1 milhão de cisternas” do governo federal também foi responsável pela autonomia do pequeno produtor em relação à água.Hoje, no conjunto dos 15 municípios compreendidos pelo Pólo, são mais de 5.2 cisternas (dados de 2009), responsáveis por armazenar 83 milhões de litros de água. A quantidade beneficia mais de 26 mil agricultores. Os bancos de sementes possuem espécies variadas, que ficam à disposição dos agricultores para a plantação. O agricultor e coordenador sindical do Pólo da Borborema, Euzébio Cavalcanti, conta que a organização trouxe autonomia.“A semente é à base da agricultura. Sem ela, nós ficamos com as mãos amarradas. Nós passamos a ter a organização comunitária, solidária, o acesso a semente na época em que começava a chuva, pois as chuvas são rápidas e temos que aproveitar o tempo. Nós temos a semente da região, adaptadas à nossa região, que os agricultores já conhecem como é o ciclo de plantação. Isso faz com que os agricultores possam alcançar essa liberdade.”A rede extensa de sementes trouxe autonomia política às famílias agricultoras e preserva o patrimônio genético da biodiversidade de sementes da região. Os bancos são construídos atualmente a partir das variedades guardadas pelos próprios agricultores. As sementes são chamadas por eles de “sementes da paixão”, expressão simbólica para valorizar a luta local. Segundo Euzébio, os bancos resgataram a auto-estima dos agricultores da região.“Os bancos de semente nos deu duas lições: a primeira que é possível crescer o número de pessoas que guardam suas sementes para plantar no outro ano, e a outra, que é possível ter uma auto-estima com a plantação das sementes tradicionais.”O estímulo da distribuição em larga escala de apenas uma variedade de semente é certamente uma ameaça às sementes camponesas. A contaminação dos cultivos por culturas transgênicas e por agrotóxico é facilitada pelo vento e animais.O risco é menor quanto mais forte for o cordão de isolamento das culturas. Para Euzébio, isso só acontece a partir da associação dos pequenos agricultores rurais contra o avanço dos monocultivos no campo. Acompanhe no próximo programa o tema, “Combate com o agronegócio: a expulsão da Souza Cruz”.Outros programas: Avanço da agricultura familiarCombate com o agronegócio: a expulsão da Souza CruzSoberania alimentar e o papel das mulheres na agriculturaConhecimento popular e controle da mosca-negraO que esperar da agricultura familiar no próximo período?  

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