A história de uma agricultora que um dia abriu mão da sua cisterna
Nas suas andanças pelos municípios e comunidades rurais que serão beneficiados com a construção de cisternas, Carlos Magno, assessor técnico do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), conheceu dona Lica.
Moradora da comunidade de Gameleira do Bonfim, no município de São Tomé, localizado na região do Potengi, no Rio Grande do Norte, dona Lica tem uma história de vida característica de quem nasceu e viveu na região semiárida de um estado nordestino. Entre tantas escolhas que fez na vida, dona Lica e seu marido optaram um dia não em ter a cisterna. Saiba o motivo lendo abaixo a história dessa agricultora. O texto e as fotos são de Carlos Magno.
Maria Cavalcante (70), D. Lica, como é conhecida na comunidade, começou a trabalhar aos seis anos de idade com seus pais como moradores de uma grande fazenda da região. O pai não queria que ela estudasse, mas ela não abria mão disto e juntou um “dinheirinho e comprou uma carta de ABC”, como não tinha dinheiro escrevia no chão e sozinha aprendeu a ler e escrever. Casou e teve 15 filhos, destes morreram seis.
Em 2003, no início do P1MC, participou da mobilização para receber uma cisterna, que era um de seus maiores sonhos. Mas na época achou que não seria justo ter uma cisterna na terra que não era dela. Não quis receber a cisterna, porque acreditava que um dia faria uma cisterna na sua própria terra. E ficou tomando água de poços construídos na época da mineração na sua região.
Trabalhou muito com seu marido e comprou um pequeno terreno. Os dois se aposentaram. E quando foi este ano, ela foi novamente mobilizada para receber a cisterna e aceitou. Já cavou o buraco para a cisterna e participou do curso do GRH, que segundo ela foi muito importante para saber todos os cuidados que precisa ter para zelar pela cisterna e pela água, que agora são uma conquista muito importante para D. Lica.
Atualmente, ainda tem dificuldade com água para o “gasto” que é conseguida no barreiro da comunidade e armazenada em barris dentro de casa. Mas isso não desanima a agricultora, pois agora vai ter água boa para beber o ano inteiro.
Além da cisterna, ela está muito feliz e ansiosa, porque o programa Luz para Todos está chegando na comunidade apesar da demora. A agricultora já está comprando os eletrodomésticos para sua casa.