Banco Mundial quer dados precisos sobre o Semiárido
FORTALEZA – A falta de dados precisos sobre os impactos econômicos do aquecimento global e da desertificação nas regiões semiáridas do Brasil é um dos maiores desafios para o enfrentamento do problema, segundo análise feita pelo Banco Mundial, ontem, na 2ª Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas, a Icid 2010, que acontece em Fortaleza até sexta-feira.
O chefe do Grupo de Adaptação às Mudanças Climáticas do Banco Mundial, Walter Vergara, disse que, na América Latina, há informações sobre prejuízos causados pelas mudanças climáticas nas regiões costeiras e áreas montanhosas dos Andes, mas terras secas continuam sem diagnóstico econômico adequado.
Vergara acredita que a dificuldade de informações nas regiões semiáridas se deve à complexidade dessas áreas. “Muitos fatores precisam ser considerados. O impacto na produção agrícola, na oferta de recursos hídricos, fertilização do solo, processos migratórios. É difícil, mas isso precisa ser feito com urgência. Sem eles, não teremos a real dimensão do problema”, avalia.
O representante do Banco Mundial cita que em relação às regiões costeiras já se sabe que o aquecimento global causará colapso irreversível que, segundo Vergara, resultará no desaparecimento dos corais do Caribe. “Por ano, os prejuízos serão na ordem de US$ 8 a 11 bilhões, com a redução da pesca, do turismo, custos com a proteção das costas. Os números ajudam a dar uma urgência no enfrentamento do problema. O mesmo precisa acontecer no semiárido.”
Diante da constatação de que o aquecimento apresentará seus efeitos mais devastadores nas áreas secas do planeta, o pesquisador da Unicamp José Eli da Veiga afirmou ser pessimista sobre o futuro das regiões semiáridas. “O fator da segurança energética é uma das questões centrais. Após o fracasso de Copenhague e diante da dificuldade dos Estados Unidos de assumir a liderança na transição para uma economia de baixa produção de carbono, quais são as garantias que nós temos de que esse processo será revertido? A sinalização dada pelos países desenvolvidos parece caminhar em sentido contrário.”
José Eli da Veiga diz que o maior problema da atual conferência é criar agenda propositiva e pressão política que influencie nas discussões para a Cúpula das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, a Rio+20, que será no Rio de Janeiro, em 2012. “A questão central é: quais as chances que a Rio+20 terá de modificar esse cenário de indefinição na mudança da produção energética mundial?”, questiona. A Icid 2010 reúne mais de 100 países da Europa, Ásia, África e América Latina para discutir soluções para o desenvolvimento seguro e sustentável das regiões semiáridas.