As armadilhas da pobreza

Compartilhe!

Todos os anos 18 milhões de seres humanos morrem por causas relacionadas à pobreza. Dez milhões são crianças. Em 2008, o mundo comemorou sua segunda maior safra agrícola da história. Mesmo assim, 5 milhões de crianças morreram de fome por falta de acesso à comida.

Esses tipos de dados balizam os estudos do economista argentino Bernardo Kliksberg, que assessora o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outros tantos organismos multilaterais como a Unicef e a Unesco. Criador de uma nova disciplina, a gerência social, o argentino é um dos pioneiros na disseminação do conceito de ética para o desenvolvimento, o capital social e a responsabilidade social empresarial. Autor de 47 obras, seu livro mais recente, As pessoas em Primeiro Lugar, foi escrito em parceria com Amartya

Sem, prêmio Nobel de Economia em 1998. Um dos palestrantes da conferência internacional do Instituto Ethos, que acontece em São Paulo entre a terça-feira 11 e a sexta 14, Kliksberg concedeu a seguinte entrevista a CartaCapital. Segundo ele, o círculo perverso da iniquidade só será rompido quando enxergarmos a pobreza como uma violação dos direitos humanos, contra a qual é preciso lutar diariamente.

CartaCapital: No livro Primeiro as Pessoas, em parceria com Amartya Sen, o senhor reflete sobre ética e desenvolvimento. No mundo, esses conceitos realmente já são associados?

Bernardo Kliksberg: O mundo tem gerado excepcionais avanços tecnológicos nas últimas décadas e aumentado drasticamente sua capacidade de produzir bens e serviços. Ao mesmo tempo convivemos com 3 bilhões de pobres, dos quais 1,2 bilhão são extremamente pobres e 2,6 bilhões não têm sequer banheiro. Uma em cada seis pessoas passa fome em um mundo que pode fornecer alimentos para uma população maior do que a atual. A crise econômica mundial agravou esses problemas. A cidadania exige modelos econômicos que incluam a todos e existe uma demanda ativa e crescente em muitos países nesse sentido. A sociedade civil está cada vez mais articulada e parte da juventude se organiza na internet rapidamente, pressionando a governança global por mudanças e pela adoção de novas regras. A ética e a economia têm de estar a serviço de políticas públicas inclusivas. Nos países nórdicos, no Canadá, e na pequena, mas muito ativa eticamente Costa Rica, está comprovado que práticas éticas fazem bem à economia, geram maior expectativa de vida e criam coesão social.

CC: Por que a América Latina é a região de maior desigualdade do planeta?

BK: O fato de a América Latina ser a região mais desigual do mundo é a chave para entender a intensidade da pobreza na região. Não é que haja pobreza e desigualdade. Há pobreza por causa dos altos níveis de desigualdade. E, sem dúvida, as políticas ortodoxas são responsáveis por aumentar ainda mais a distância entre ricos e pobres. Na Argentina, por exemplo, que foi um verdadeiro laboratório de políticas econômicas ortodoxas nos anos 90, o fosso social aumentou 225% entre os governos Alfonsín (1986) e Menem (2000). A pobreza triplicou, o desemprego atingiu picos históricos, a base econômica de amplos setores de pequenos e médios empresários e profissionais liberai

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *