Baixa qualidade de vida
O semi-árido ocupa mais de 80% da área total do Ceará. São mais de 126 mil quilômetros quadrados, abrangendo 150 municípios. 55,61% da população do Estado reside nessa região. E continua com os piores índices de desenvolvimento humano. Segundo o último estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), os dados sobre demografia, educação, saúde, contas regionais e infraestrutura nessa região estão abaixo da média do Estado. A taxa de mortalidade infantil do semiárido é a mais alta no Estado, 17,11%. Enquanto outros municípios registram 14,81% e o dado do Ceará foi equivalente a 16,09%. As taxas de mortalidade neonatal precoce e tardia também são preocupantes. De acordo com os especialistas, os resultados negativos no semiárido cearense são decorrentes da baixa qualidade de vida nessa região.
Na educação, a taxa de distorção idade-série no ensino fundamental para o semiárido correspondeu a 31,1% dos alunos. Essa taxa para o Ceará foi de 29,3%. O computador ainda é uma realidade distante para quem mora no semi-árido, 91,8% dos estudantes de 4º e 8º série não tem acesso direto a essa tecnologia. Pela escassez de chuvas e alto índice de aridez dos solos, a distribuição de água na região semi-árida merece uma maior atenção. Não é o que ocorre. Mesmo sendo uma região com a maior área e população do Estado, não corresponde nem a metade da quantidade de pessoas beneficiadas com redes de água do Estado. A situação é mais agravante quando se trata de esgotos. A população que tem acesso a redes de esgoto da região semiárida corresponde apenas a 24,8% do total que tem acesso a esse serviço no Estado.
A coordenadora executiva do Asa Brasil No Ceará, Cristina do Nascimento, atribui essa triste realidade à falta de políticas públicas direcionadas ao contexto do semi-árido. “É preciso pensar na sua complexidade, criando ações direcionadas”, avalia. Ela comenta que muitas escolas são carentes na abordagem de temas relevantes e direcionados para aquele público. “A criança não tem vontade de ir à escola porque o professor fala de uma realidade que não é a dele. A escolarização deve ser contextualizada”. Outra questão é que as famílias se encontram em ocupações difusas, ou seja, não estão aglomeradas, o que torna mais difícil que as políticas públicas cheguem a essas famílias. “Existem famílias que estão há pelo menos dez quilômetros de distancia dos seus vizinhos. Por isso, refletir o contexto do espaço é primordial para conseguir executar as ações de beneficiamento”.