O clima e o novo modelo para a agricultura

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RIO – Enquanto os líderes mundiais reunidos em Copenhagen barganham recursos, metas e compromissos para responder às mudanças climáticas, os impactos dessas mudanças são sentidos pelas populações mais vulneráveis em todo o mundo.

Os modelos recentes indicam que as mudanças climáticas podem alterar a geografia da produção mundial de alimentos. No Brasil, parte importante da produção agrícola pode vir a ser duramente afetada, com perdas de até R$ 7,4 bilhões em 2020 e o dobro desse valor em 2070.

Os agricultores familiares são responsáveis pela produção de mais de 70% dos alimentos consumidos no país. Como essa produção depende diretamente das condições climáticas, nossa base alimentar pode vir a ser seriamente comprometida. Mas é preciso dizer que a agricultura familiar também produz conhecimento. E que existem hoje várias iniciativas desenvolvidas por agricultores familiares que permitem a manutenção de sistemas de produção diversificados, estáveis, menos dependentes de insumos externos e adaptados a condições locais.

Em todo semiárido, por exemplo, existem práticas valiosas de armazenamento e uso de água de chuva. O Programa 1 Milhão de Cisternas está garantindo o acesso a água de qualidade para cerca de 300 mil famílias. Ele nasceu como uma iniciativa da sociedade civil e é implementado por ela com recursos do governo federal, de doações de bancos oficiais e particulares.

Outra experiência importante são os Bancos de Sementes Comunitários. Eles conservam a biodiversidade, mantém sementes adaptadas às características ambientais, sociais e culturais e reduzem os riscos de perda de variedades por problemas relacionados a enchentes, secas e outros eventos climáticos.

Este novo cenário exige que repensemos o atual modelo de produção. As bases para a construção desse novo modelo, mais sustentável, resistente e adaptado estão nas experiências desenvolvidas pelos movimentos sociais e no conhecimento secular acumulado por gerações de experimentadores, agricultoras e agricultores, comunidades tradicionais e povos indígenas. São essas experiências que trarão as grandes novidades para a redução na produção de carbono e para a adaptação às mudanças climáticas.

* Celso Marcatto é da ActionAid.