Países emergentes rejeitam texto final da conferência
COPENHAGUE – A 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), que terminou oficialmente ontem em Copenhague, ficou sem um texto final após o plenário recusar o acordo que havia sido costurado na noite anterior entre Estados Unidos, Brasil, China, Índia e África do Sul. O documento já era considerado pífio porque não previa metas para os países reduzirem as emissões de gases-estufa até 2020. Trazia só um compromisso de impedir a elevação da temperatura em 2ºC, sem dizer como seria atingido.
Com isso, a tentativa de fechar um texto que permitisse que os países, principalmente os desenvolvidos, fossem cobrados internacionalmente pelo cumprimento das metas ficará para 2010, quando está marcada nova reunião no México.
O Acordo de Copenhague, documento firmado por aqueles países, cristalizou o fracasso de duas semanas de negociações diplomáticas e foi recusado ontem de manhã. Mesmo com 24 horas de debates além do previsto, o documento, permeado de críticas de delegados, foi denunciado por países em desenvolvimento e acabou rebaixado a um adendo da edição de 2009 da Convenção do Clima (UNFCCC). Não foi divulgado quantos países manifestaram apoio formal ao documento, inicialmente elaborado por 25 nações – Brasil incluso.
Depois da maratona de negociações de chefes de Estado e de governo, entre os quais Barack Obama, e Luiz Inácio Lula da Silva, delegados de países como Sudão, Tuvalu, Cuba, Nicarágua, Bolívia e Venezuela, entre outros, recusaram-se ontem de manhã a aceitar o acordo, que precisaria de consenso para ser adotado pela COP-15.
Pelo texto, os países industrializados se comprometem a empregar US$ 30 bilhões nos próximos três anos – dos quais, US$ 3,6 bilhões dos EUA –, além de até US$ 100 bilhões por ano entre 2013 e 2020. O problema: nenhuma instituição operacional, nem meio de governança desse valor sobre criado.
Antes de deixar a COP, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu que o resultado ficou muito aquém do esperado. Mas justificou a posição de, mesmo assim, aderir: “O Brasil lutou muito para que essa conferência tivesse um resultado positivo. Negociamos até o fim. Mas reconhecemos que este acordo é melhor do que o zero absoluto”.
Ao longo da manhã, autoridades internacionais tentaram minimizar o fracasso. Ban Ki-moon, secretário-geral das ONU, afirmou em pronunciamento que “a estrada ainda será muito longa”, mas elogiou o documento. Yvo de Boer, secretário-geral da UNFCCC, disse chegou a classificar o acordo como “forte”. Ao final, cedeu, ao responder a um jornalista britânico sobre as ambições da COP-16, em novembro de 2010: “O que temos de tentar alcançar no México é tudo o que deveríamos ter alcançado aqui”.
Em nota à imprensa, o diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Kumi Naidoo, lamentou que a cidade de Copenhague tenha se transformado em “palco de um crime, com os culpados correndo para o aeroporto perseguidos pela vergonha”: “Presidentes e primeiros-ministros tiveram uma chance de uma em um milhão de mudar o mundo para sempre e impedir que o clima entre em colapso.”