Sertão do Ceará está virando deserto
O pedaço mais seco do Brasil, que já sofre com as adversidades do clima, vai sentir ainda mais os efeitos do aquecimento do planeta. Em Irauçuba, no Ceará, o sertão está virando deserto.
As nuvens no céu são como miragem, porque a chuva não chega. Apenas os cactos se multiplicam na terra torrada pelo sol. A região toda foi prejudicada por desmatamento e criação de gado sem controle. A gente simples que vive no local, depois de tantas secas e prejuízos, passou a criar só ovelhas e bodes, animais que resistem à vida dura, quase sem pasto, sempre com pouca água. Para sobreviver, eles devoram até a última plantinha. Um apetite devastador para a caatinga já tão vulnerável.
“Grande parte do nosso semiárido, e aqui é um exemplo muito típico, é um doente terminal”, diz o professor João Ambrósio.
Há mais de 20 anos o professor João Ambrósio se dedica ao estudo do semiárido. Ele conta – e quem olha custa a acreditar – que a região, quatro séculos atrás, era cheia de vida.
“Havia uma riqueza imensa de fauna, entre veados, pebas, tatus, aves, emas. Foi uma savana, vamos dizer assim, mais ou menos fechada, mas com muita vida animal e com muita produção de forragem”, descreve o professor.
Depois que a vegetação desapareceu, a chuva tão desejada virou problema também. O solo está raso, impermeável. Quando chove, a água arrasta o pouco de terra fértil que fica na superfície. Vai lavando o chão. E as pedras, antes encobertas, brotam com a erosão.
“Pouco tempo atrás, o nível do solo era acima de uma pedra. Toda a extensão foi removida pela erosão. No entanto, existe um potencial fantástico ainda para retorno”, explica João Ambrósio.
Em um pequeno pedaço de vegetação protegida por espinhos, a prova de que a natureza precisa só de uma chance.
O cenário de desolação ainda pode mudar completamente. O homem que faz o papel de vilão ainda é capaz de dar um final feliz a essa história. A esperança está a poucos quilômetros do centro de Irauçuba, na comunidade rural do Boqueirão. No local, entre tantas casas simples, uma se destaca.
“Trabalhamos muito para fazer este quintal”, conta a dona de casa Marlene Rodrigues.
O quintal de dona Marlene chamou a atenção quando passamos pelo tamanho. Ele é bem pequenininho, mas com uma grande diversidade de verduras e temperos.
“A romã serve para dor de garganta. Estou plantando pimentão. Os tomates já estão crescendo. A goiabeira dá tanta goiaba, que você não queira saber”, descreve Marlene.
Marlene tem o suficiente para vender e doar.
“O caju dá para a comunidade quase toda. É bom dividir com os outros que não têm”, conta a dona de casa.
Também foi uma doação que fez a plantação de Marlene vingar. Ganhou uma cerca para manter os animais bem longe. Uma das iniciativas dos educadores sociais da Insti