Tão perto, tão longe

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Quando o Império determinou a elaboração de estudos para a construção de reservatórios no Brasil, a ordem era minorar os efeitos da seca no Nordeste ao final do século XIX. O primeiro açude inaugurado foi o Cedro, em Quixadá (a 158 km de Fortaleza), no Sertão Central do Ceará, em 1906. Passados mais de 100 anos, um dilema: uma antiga comunidade, instalada às margens do manancial, permanece com problemas de abastecimento de água.

Nos quintal do agricultor César Barbosa Pacheco, 43, há uma visão privilegiada do principal cartão postal de Quixadá. O horizonte insere no mesmo olhar a barragem centenária do Cedro, a pedra da Galinha Choca e 40 milhões de metros cúbicos de água armazenada. Em nada a paisagem reduz o problema de seu César. Mesmo com a água do açude a 200 metros de sua casa, ele e a família se valem de baldes e da operação Pipa, do Exército, para ter acesso a água.

Seu César mora no povoado Riacho Verde. Segundo o líder comunitário Francisco Antônio Rodrigues, 40, o “Chicão”, são cerca de 200 famílias. A água potável da comunidade, atualmente, vem da operação Pipa. É o resultado da estiagem que secou as cisternas abastecidas por chuvas. “Não é de hoje que a água de beber vem de caminhão (pipa). É desde 1988, sempre que tem estiagem. Hoje vem do Exército, mas antes era da Defesa Civil ou da Prefeitura”, relata Chicão.

Parte do Riacho Verde também conta com abastecimento de água para fins como banho, lavagem de roupa e outras atividades domésticas. A fonte, um poço próximo, é salobra e inapropriada para beber e cozinhar. Seu César, às margens do Cedro, sequer tem este benefício. A solução é, munido de baldes e potes, apanhar água do açude. “E essa água também é salobra”, completa.

O abastecimento de carro-pipa em Quixadá é operado pelo 23º Batalhão de Caçadores, com sede em Fortaleza. De acordo com a unidade, a água é captada em dois açudes – Maria Preta e Boa Vista – por 32 caminhões. O atendimento, conforme ainda o Exército, envolve 11.825 pessoas, de 68 comunidades.

Quixadá teve índices pluviométricos abaixo da média do Ceará. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), as chuvas na cidade totalizaram 1.048 milímetros. Já o volume do Estado foi de 1.248 mm. As precipitações historicamente parcas no Sertão Central contribuem para as secas de cisternas e do açude Cedro. O manancial, hoje, está com 31,4% de sua capacidade, sem sangrar desde 1989.

Chicão, porém, crê em dias melhores. “Vai chegar o dia em que o Cedro voltará a sangrar. E aqui na comunidade ninguém deixa de acreditar em água boa. Um dia também vai chegar”, sonha.

EMAIS

– Segundo o Anuário do Ceará 2009-2010, o serviço de água urbano é de 86,12% em Quixadá. Já o rural é de 24,49%.

– Quixadá tem 23.205 domicílios, conforme o Censo 2007. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará

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