“Podemos enfrentar todas as dificuldades em relação à violência”
Confira o relato da agricultora e secretária executiva do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE), Margarida Pereira da Silva. Ilda, como é chamada desde criança, assim como muitas mulheres do campo, foi vítima de violência e, hoje, ajuda outras companheiras a superarem esse problema. Confira essa história de luta e superação!
Infância
“Eu passei por um processo de violência já na minha infância, dentro de casa. Meus pais queriam que eu estudasse, mas quando eu chegava da escola, em vez de fazer a tarefa, ia para a roça. Eu só tinha tempo de estudar à noite, com a ajuda de um candeeiro, porque eu morava na zona rural [comunidade Diogo Casinhas, Pernambuco]. Mas, eu acabava dormindo e era acordada embaixo de chinelada. Dos 11 filhos, eu fui a única que não estudei. Os meus irmãos mais velhos não ajudavam em casa, aí quando eu ficava com raiva porque eles não queriam me ajudar, eles acabavam me batendo. Eu considero isso um tipo de violência também.”.
Violência doméstica
“Eu comecei a namorar cedo, com 15 anos, e aos 19, eu casei com esse homem. Um ano antes do meu casamento, passei a sofrer violência porque ele queria mandar em mim, tinha ciúmes. Depois de casada, ele passou a me bater. Até quando eu estava grávida, ele me batia. Outra situação de violência era quando ele chegava em casa e a comida não estava pronta. As crianças viam tudo e gritavam muito, mas ele não estava nem aí. Quando eu o conheci, ele não demonstrava ser violento. E naquela época, como eu vivia uma história de violência dentro da minha família, quando eu comecei a namorar, achei que seria a minha salvação. Eu pensei: ‘vou casar, vou sair dessa situação’”.
Violência sexual
“Tem uma violência que é terrível, que nós mulheres enfrentamos, principalmente as mulheres rurais, que é a violência sexual. Você imagina o que é uma mulher apanhar do marido, ser xingada, e depois ele estar em cima de você, querendo ter relação sexual. Muitos homens fazem isso e o meu também fazia”.
A separação
“Eu não me separei antes porque na minha compreensão o que ele fazia não era violência. Ele me batia, mas eu achava que não era violência porque não matava, não tirava sangue. Eu só o deixei no dia em que ele passou a violentar meus pais. Isso aconteceu no dia do batizado do meu filho mais novo. Como a gente não tinha condição, minha família preparou um almoço para comemorar o batizado. Quando eu cheguei com o menino na casa da minha mãe ele estava num boteco. Algum tempo depois, meu marido chegou lá dizendo que não levaram o menino para dar a bênção a ele porque tinham batizado com o nome de outro pai. E aí começou a briga. Ele mandou a gente para casa, sem almoço. Minha mãe até chegou a mandar o almoço da gente, mas ele devolveu e me man