Aos tantos Povos do Semiárido
Povos dos cajueiros. Das bananeiras. Povos dos carnaubais. Dos mofumbos, marmeleiros e juremas.
Povos dos serrotes. Das várzeas. Povos das terras vermelhas. Das pedras à flor da terra.
Dos ventos que levantam e transportam o pó dos caminhos e as folhas que um dia foram verdes e coloriram a paisagem.
Povos das areias que bebem as águas das chuvas e na segunda metade do ano se tornam escaldantes sob nossos pés.
Povos de veredas, cancelas, portões, porteiras, passadiços, taramelas, ferrolhos, arames com roseta, correntes, amarras.
Povos das casas adornadas com plantas floridas. Povos de árvores refrescando a casa. Povos de nenhuma sombra de pé de pau.
Povos de casa mimo e aqueles de casas sem nenhuma ordem no guardar os seus pertences. Povos de viver em pseudocasas.
Das crianças comunicativas (“Mããããe, o home da cisterna chegou!”), de infância barulhenta, alegre, curiosa. Povos desconcertantes. Povos da alegria.
Povos das carvoarias que lhes tisnam a pele e as roupas e que são a sua fonte de sustento.
Povos dos dramas e das tragédias. De pássaros engaiolados. De porcos que convivem nos terreiros com a meninada.
Povos que despertam em nós, a vontade de se ficar na rede que nos oferecem nos alpendres de suas moradas.
Povos de nos revelar histórias de suas vidas. Povos de disfarçar segredos que no fundo estão expostos.
Povos que se expressam pelo barulho irradiado ou pela música que ouvem a todo volume. Povos de existência silente, monossilábica.
Povos de agruras que não lhes tiram o sorriso, o bom humor, a esperança. Povos que exalam magia e nos encantam com suas formas de encarar a vida.
Povos que em sua síntese traduzem a nossa essência… Nossos desejos… Nossa missão… Nossa identidade.. . Nosso caminhar e aprender.
Barra do Juá – Paramoti, Ceará – 22/09/2009
*UGM Esplar/Ceará.