Fome castiga mais de 1 bilhão

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Brasília – A fome é uma estúpida realidade principalmente em sete países, onde vivem 65% dos famintos: Índia, China, República Democrática do Congo, Bangladesh, Indonésia, Paquistão e Etiópia. Uma tragédia que já ameaça 1,02 bilhão de pessoas no planeta e ganha contornos mais nefastos quando a ajuda alimentar atinge seu mais baixo nível em 20 anos. O alerta foi dado ontem pela norte-americana Josette Sheeran, diretora executiva do Programa Mundial de Alimentação da Organização das Nações Unidas (PMA). Só neste ano, 87 milhões de homens, mulheres e crianças passaram a viver a fome. Segundo o PMA, nunca houve tanta gente nessa condição. No estudo Fome em 2009 – Uma receita para o desastre, a entidade mostra que enfrenta redução orçamentária e tem só 30% do dinheiro necessário para alimentar 108 milhões. Apesar de o PMA contar com US$ 6,7 bilhões para 2009, seriam necessários mais US$ 3 bilhões para cobrir o orçamento.

Apenas alguns quilômetros separam Musimwa Namashombwa de uma realidade que trai a dignidade humana. Morador de Bukavu, cidade de 241 mil habitantes no leste da República Democrática do Congo (ex-Zaire), esse geólogo de 34 anos contou ao Correio/Diario que a fome impõe escolhas radicais no país. “Em algumas famílias, se o pai e dois filhos comem hoje, amanhã ficam sem se alimentar para dar lugar à mulher e às outras crianças”, disse, por meio de software de videoconferência.

Mais a leste, às margens do Oceano Índico, cerca de 10% da população do Quênia (3,8 milhões de pessoas) precisa com urgência de assistência alimentar. “O país enfrenta combinação de seca e contínua alta nos preços”, diz o relatório do PMA. “Para driblar a fome, muitos comem raízes, insetos e, às vezes, carne de animais mortos”, contou o queniano Hasanain Sunderji, de 47 anos, dono de uma loja de bombas elétricas e peças para motores de veículos.

A diretora do PMA fez um apelo para o mundo não se esquecer de quem mais necessita. Segundo Josette, Quênia, Guatemala e Bangladesh são os maiores desafios para o organismo. O relatório explica que o PMA terá de racionar os alimentos já em outubro, diante do reduzido estoque. Na Guatemala, onde o governo declarou “estado de calamidade nacional” e a desnutrição afeta quase metade das crianças, a ONU vê ameaçada a distribuição de suplementos alimentares para 100 mil menores e 50 gestantes e lactantes.