Roberto Malvezzi fala sobre estudo da CPT que analisa os investimentos ambientais do governo
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Clarear as contradições entre o discurso ambiental brasileiro e a sua política de investimentos é o foco do estudo Discurso Ambiental brasileiro x Investimentos do PAC e BNDES realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) em parceria com a Misereor. A Diaconia conversou com o agente da CPT e autor do estudo, Roberto Malvezzi (Gogó), sobre esse documento na última quinta-feira, 13/08, durante o Programa A Voz do Semiárido, veiculado na Rádio Vida FM 107,9. Confira a entrevista!
Diaconia – Esse estudo fala de um grande projeto de desenvolvimento econômico para o Nordeste. O que inclui esse projeto e de que forma as famílias agricultoras serão beneficiadas por ele?
Gogó – Esse projeto de desenvolvimento pensado para o Nordeste não foi elaborado com a participação de todas e todos. Ele está restrito a grupos empresariais, que veem à cidade de Fortaleza como um local geograficamente estratégico para a exportação, ou seja, que está mais próximo da Europa e dos Estados Unidos. Então, o objetivo é criar ali, um ponto de escoamento da produção, o que inclusive, sairia mais em conta em termos de custo financeiro. Nos arredores deste ponto, deve ser construído um pólo industrial (siderúrgico) e uma ferrovia que processe todos os produtos do Nordeste para Fortaleza, no caso a Transnordestina, que começa no Piauí e segue até Fortaleza. A ferrovia tem braços que seguem rumo ao Vale do São Francisco e ao Porto de Suape, em Pernambuco. Para complementar, o projeto da Transposição do Rio São Francisco visa, fundamentalmente, assegurar água para a irrigação, para o Porto e para o Pólo Siderúrgico. São projetos grandiosos que envolvem recursos da casa dos bilhões: a Transposição vai custar R$ 6 bilhões, a Transnordestina, R$ 4,5 bilhões, o Porto R$ 500 milhões, mais uma Termoelétrica no Porto de R$ 3,5 bilhões. Esse investimento por si só, absorve todo o recurso que está sendo destinado através do PAC para toda a região Nordeste.
Diaconia – A desertificação é uma ameaça iminente ao Semiárido. O que o estudo observa em relação a proporção de investimentos do PAC e do Plano de Combate a Desertificação?
Gogó – É importante dizer que a nossa região não é um deserto. Ela tem um bom regime de chuvas, variando entre 300 e 700 milímetros. Nós convivemos bem com isso, através da captação da água de chuva para beber, cozinhar e produzir. A desertificação vem acontecendo em virtude do processo de desmatamento da Caatinga e pode se agravar com o aquecimento global. O governo previu R$ 4 milhões de reais para o Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-Brasil), valor que pode ser considerado pequeno se comparado ao montante de mais de R$ 15 bilhões das obras do PAC. Mesmo assim, tive informações de pessoas do Ministério do Meio Ambiente que esse valor foi contingenciado, o que significa dizer que nós não temos recursos investidos efetivamente no combate a desertificação.
Diaconia – Ao passo que ainda se debate a questão da transposição do rio São Francisco,<