Quem vai pagar a conta pelas mudanças climáticas?

Heitor Scalambrini Costa*
O cenário do aquecimento global traçado pelos relatórios publicados neste ano (Paris/2 fevereiro e Bruxelas/6 de abril) pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (sigla em inglês, IPCC), órgão da ONU responsável por estudos sobre transformações do clima, são considerados preocupantes para todo mundo, tanto para ambientalistas, comunidade científica, como para os governos de países emissores de gases de efeito estufa (GEE). O aquecimento climático é uma certeza e é evidente a partir das observações de aumento das temperaturas do ar e dos oceanos, devido ao derretimento de neve e gelo.
Os estudos do IPCC apontam a ação humana como sendo a maior responsável pelo aquecimento do planeta. Concentrações atmosféricas globais de dióxido carbônico, metano e óxido de nitrogênio têm aumentado muito como resultado das atividades humanas desde 1750, inicio da Revolução Industrial. Segundo o IPCC, o aumento global das taxas de dióxido de carbono (atualmente em torno de 400 ppm) se deve principalmente ao uso de combustível fóssil, ou seja, o petróleo.
Nestes relatórios estão descritas em detalhes as terríveis previsões sobre secas, inundações, tempestades, doenças, extinção de espécies, aumento do nível do mar e desgraças afins. E uma das questões cruciais apontadas é de quem vai pagar a conta deste caos climático.
A resposta, dada pelo próprio IPCC, indica claramente que onde vivem as pessoas mais pobres é onde os impactos mais negativos acontecerão na agricultura, na biodiversidade, na disponibilidade de água, etc. A população pobre está menos equipada para lidar com os impactos e se adaptar a eles. Enquanto a América do Norte, a Europa, o Japão e a Austrália podem se valer de suas riquezas e infra-estrutura para, desde já, mitigar os efeitos das mudanças climáticas em curso, o resto do mundo não tem para onde correr e parece aguardar o acirramento do caos climático como um condenado à espera do verdugo.
O pior cenário, é aguardado para a África. O continente africano é o menor emissor de gases causadores de efeito estufa, mas, devido a questões geográficas e de subdesenvolvimento, ele será um dos mais afetados. O aumento da desertificação da área em torno do deserto do Saara e a cada vez menor camada de neve do monte Kilimanjaro, na fronteira do Quênia com a Tanzânia, são exemplos do que está por vir. Segundo o IPCC, daqui a somente 15 anos o número de seres humanos vivendo em estado de penúria crônica de água no continente pode atingir a marca de 250 milhões.
Os africanos, maiores vítimas do capitalismo global, e já parcialmente dizimados pela fome, verão a falta d¿água reduzir ainda mais suas áreas cultiváveis e fazer entrar em colapso sua agricultura. As populações costeiras mais pobres, que em sua maioria vivem da pesca, prova