Ideologização da questão ambiental
![](https://enconasa.asabrasil.org.br/wp-content/uploads/2025/02/destaque-ciranda-semiarido.jpg)
A sociedade mundial começa a perceber que o aquecimento global; ou seja, uma mudança significativa no clima da Terra, é um problema real e sério. As terríveis previsões sobre secas, inundações, tempestades, doenças, extinção de espécies, aumento do nível do mar e desgraças afins, fazem parte dos resultados dos estudos recentemente divulgados.
Quando olhamos a história da Terra, podemos ver que mudanças climáticas fazem a regra e não a exceção, e, aparentemente, o gás carbônico tem um papel fundamental nestas mudanças, seja iniciando a mudança, seja ampliando a mudança. Se provocarmos com nossas emissões de carbono, via queima de combustíveis fósseis e desmatamento, uma outra máxima termal, como a que aconteceu há 55 milhões anos atrás, não vai ser novidade para a Terra. Mas, certamente, será uma novidade triste para a civilização humana.
A constatação feita pelo IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), órgão da ONU responsável por estudos sobre transformações do clima, de que os pobres é que vão pagar a conta do caos climático pode não ser exatamente surpreendente, mas serve para chamar a atenção para a dimensão ideológica do problema, que muitas vezes é ignorada ou até mesmo deliberadamente deixada de lado. Pois, geralmente, a ideologia vem depois do interesse. As mudanças climáticas poderão ter não só implicações econômicas, ambientais e sociais, mas para a paz e a segurança, também. Isto é especialmente verdade em regiões vulneráveis, que enfrentam diversas tensões ao mesmo tempo ¿ conflitos preexistentes, pobreza e acesso desigual a recursos, instituições fracas, insegurança alimentar e incidência de doenças como HIV/Aids.
Quando se chega a esse ponto, não basta dizer que o capitalismo é o culpado histórico pelas mazelas ambientais. Não basta denunciar que os países que são os principais culpados pelo aquecimento global serão os que menos vão sofrer suas conseqüências. É preciso dizer que, se o atual modelo de produção e consumo capitalistas não for profundamente alterado, todos serão atingidos, ricos e pobres (estes, primeiramente, claro!). Essa alteração passa pela completa revisão do conceito de crescimento econômico que a humanidade, em sua fase capitalista, adotou como verdade divina. Está provado que a idéia segundo a qual a humanidade pode crescer indefinidamente a partir da ¿transformação da natureza¿ vai nos levar ao suicídio global em pouco tempo. É preciso interromper o quanto antes essa corrida ao abismo. Os bens da natureza são para sustentar a vida humana e não para satisfazer os cofres das companhias multinacionais ou nacionais. Que, aliás, nem sempre lembram que o fim último das atividades é manter a vida sobre a Terra e não destruí-la para o benefício limitado de umas poucas pessoas ou entidades.
A Europa parece mais sensível à ameaça do caos climático nos últimos anos, apesar de os maiores países ainda não cogitarem uma pro