Integrantes da ASA destacam fatos de 2011 e expectativas para 2012
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Estamos a alguns dias de 2012 e para marcar a passagem de mais um ano, procuramos saber junto aos integrantes da rede ASA o que eles destacam de fato marcante ocorrido em 2011 e quais as expectativas para 2012. Eis as respostas:
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Neilda Pereira da coordenação executiva da ASA pelo estado de Pernambuco
Em 2011, que fato marcante sobre o Semiárido você ressalta?
O 2° Encontro Nacional de Agricultores/as Experimentadores foi um momento forte na ASA em 2011. Através de visitas de intercâmbios, debates, oficinas, as famílias agricultoras apresentaram suas experiências, marcadas pela grande capacidade de construção de conhecimento dos próprios agricultores e agricultoras no Semiárido brasileiro.
O ato em Juazeiro e Petrolina, no último dia 20 de dezembro, foi sem dúvida um momento no qual 15 mil vozes ecoaram e reafirmaram a importância da continuidade das ações de convivência com o Semiárido, ações essas que têm mudado a vida de muitas famílias que moram nessa região.
O que se esperar para 2012 sobre os mais diversos temas relacionados à convivência com o Semiárido?
A minha expectativa para 2012 é que possamos avançar no diálogo com o governo federal na perspectiva de continuidade e de ampliação das ações de convivência com o Semiárido. Bem como discutir e cobrar do estado a definição de um marco regulatório para as ONG´s que permita a um outro tipo de parceria entre organizações não-governamentais e governo. Por fim, penso que precisamos avançar na articulação entre as diversas redes, ONG´s e movimentos sociais na busca de uma melhor articulação das ações e na proposição de politicas publicas, em diversos espaços de discussão.
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Jean Carlos, coordenador do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC)
Sobre 2011…
Gostaria de ressaltar, o compromisso e a dedicação de todos/as que fazem o P1MC (pedreiros/pedreiras, animadores/as de campo, gerentes, auxiliares, coordenadores, comissões municipais e toda a equipe da UGC [unidade gestora central] e coordenação Executiva da ASA), pois cerca de 350 profissionais de 1.500 organizações da sociedade civil, mobilizaram comunidades, participaram diretamente do processo de formação e construção coletiva do conhecimento acerca da convivência com o Semiárido e, juntos, conduziram o P1MC que esse ano atendeu 52.188 famílias com cisternas de placas de 16.000 litros, beneficiando diretamente cerca de 261.000 pessoas.
Este ano, o Programa trouxe um desafio novo que foi trabalhar a dimensão das cisternas escolares, a educação contextualizada, a formação de educadores e toda comunidade escolar. Para a maioria das UGMs [unidades gestoras microrregionais] envolvidas nessa proposta, essa ação de cisternas nas escolas significou um “gás novo” para toda a equipe e, para além do desafio, uma grande oportunidade de continuar contribuindo agora junto a um público [escolar] que a ASA não tinha uma ação de dimensão nacional articulada.
Em 2011, foram 836 escolas trabalhadas que hoje dispõem de cisterna para abastecimento escolar, que beneficiará cerca de 21.000 alunos da zona rural do Semiárido brasileiro, que por muitas vezes não frequentavam a escola por não ter água para beber.
A ação do P1MC durante esse ano oportunizou a estocagem de aproximadamente 1 bilhão de litros de água, que não está concentrada e sim partilhada junto às milhares de famílias atendidas.
Entendemos que o P1MC e a ASA têm contribuído para uma significativa estocagem de Esperança, pertencimento, fé e poder popular. Esse poder popular estocado no Semiárido brasileiro marcou presença em Juazeiro e Petrolina no último dia 20 de dezembro, para mostrar para toda sociedade que existe uma proposta bonita, limpa e sustentável que vem sendo construída a muitas mãos pelo Semiárido e que não pode parar.
O ato público de Juazeiro-Petrolina representou a tradução do poder acumulado, estocado no Semiárido brasileiro ao longo desses quase 11 anos pela ASA. Entendemos que esse ano de 2011 foi um ano de conquistas e muitos aprendizados para todos/as que fazem essa rede.
Para 2012…
Esperamos fortaleza, vigilância e discernimento para continuarmos articulando, mobilizando e transformando o Semiárido brasileiro a partir das ações da ASA e contamos com o compromisso de todos e todas para que juntos sigamos com essa rede que tem deixado uma marca indelével no Semiárido brasileiro. Entendendo que os programas P1MC e P1+2 cumprem um papel fundamental na perspectiva de legitimar o direito à água na condição de segurança alimentar, contudo esses programas têm e devem assumir a dimensão de catalisadores de outros processos interessantes e dialogar com outras ações e politicas públicas que venham a contribuir para o desenvolvimento sustentado na convivência com a região Semiárida, cabendo a cada um/uma de nós estabelecer essas conexões e entrelaçamentos.
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Alexandre Pires, coordenador geral do Centro Sabiá (PE)
Sobre 2011
O lançamento do plano Brasil Sem Miséria, que traz em sua composição a ação do programa Água para Todos, direcionado para a população do Semiárido brasileiro, me parece algo marcante nesse ano. No entanto, esse destaque não se refere à lógica como o programa Água para Todos está estruturado, que visualiza a distribuição ou construção de reservatórios de forma aleatória, não garantindo um processo de formação para convivência com o Semiárido.
O plano ainda tem um grande agravante que é de não tocar na dimensão da Reforma Agrária, quando o Semiárido ainda é uma região com grande concentração fundiária. De certa forma, imagino que o Brasil Sem Miséria não traz consigo as principais dimensões que poderiam acelerar ou garantir de forma mais rápida uma mudança do panorama em que ainda se encontra o Semiárido.
Olhando para a ASA, um destaque é a capacidade de negociação com o governo federal tendo como pauta o projeto de desenvolvimento que vem sendo construído pelas organizações e movimentos sociais que atuam na região.
Para 2012…
O que destaco como expectativa para o ano de 2012 é a capacidade que as organizações que compõem a ASA devem ter ou desenvolver para ampliar a capacidade de execução dos programas P1MC e P1+2. Essa capacidade diz respeito à identificação de outras organizações que também possam desenvolver o mesmo trabalho, sobretudo no cenário em que estados e municípios devem absorver grande parte dos recursos de execução do programa Água para Todos. É necessária também uma ampla articulação política para que essa execução seja feita pela sociedade [civil organizada].
Também destaco, como uma expectativa para esse ano de 2012, a execução de vários projetos das organizações da ASA, no que se refere à construção de referenciais técnicos para a convivência com o Semiárido, a partir dos processos de mobilização da Articulação, seja na área da educação contextualizada, da implementação de tecnologias de baixo carbono ou mesmo de combate à desertificação, como é o caso do projeto Terra e Vida: sistemas agroflorestais – SAFs no combate à desertificação e na adaptação às mudanças climáticas no semi-árido, que é uma proposta de trabalho do Centro Sabiá e do Caatinga, para criar referenciais de combate à desertificação a partir da formação e da implementação de sistemas agroflorestais.