Plantando com sabedoria, fazendo agroecologia

A experiência de Seu Joaquim e sua família na produção de alimentos agroecológicos
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Seu Joaquim e a criação de galinhas. | Foto: Santina André

A Comunidade Tesoura fica localizada há dois quilômetros da sede do município de Cordeiros, que faz parte do Território de Vitória da Conquista, no Sudoeste baiano. Nesta comunidade se destaca a experiência da família de Seu Joaquim, de 51 anos, conhecido na região como Joaquim da Tesoura ou Joaquim das verduras, que Junto com a esposa Carmezina e os filhos Helinaldo, de 18 anos e Carine, de 11 anos, vem demostrando que é possível viver e produzir no Semiárido. O casal possui ainda outros dois filhos: Alex, de 24 anos, e Camila, de 22 anos, que não residem com os pais.

“Dizem que passarinho quando quer voar cria asa. E graças a Deus nós temos esse Projeto em nosso Semiárido, com a força de Deus e dos companheiros, a ASA trouxe para nós conhecimento e a vontade de sobreviver em nossa terra.” É com estas palavras que Seu Joaquim descreve e partilha a sua trajetória de vida e sua experiência como agricultor experimentador e semeador da agroecologia, e o resultado das tecnologias de convivência com o Semiárido implantado pela ASA na Microrregião de Brumado.

Filho de agricultores, seu Joaquim começou a trabalhar aos sete anos de idade na propriedade dos pais. Quando jovem, migrou para São Paulo em busca de ganhar um pouco de dinheiro, mas com as dificuldades vivenciadas lá fora, constatou que sua sobrevivência não era naquele lugar, mas em sua terra.

Seu Joaquim e família colhendo hortaliças.| Foto: Santina André

Já de volta em sua terra natal, se casou com Dona Carmezina, construiu a sua casa e começou a trabalhar para outros agricultores “vendendo o dia”, no entanto o que ganhava era insuficiente para manter a sua família e alimentar bem: “às vezes não dava nem pra comprar um quilo de carne para comer na semana” – nos conta Seu Joaquim. Cansado de trabalhar para os outros, seu Joaquim fez um pedido a Deus que lhe mostrasse um caminho para sair deste sofrimento, e veio uma iluminação: começou a cultivar alface para o consumo da família e para vender.

As primeiras vendas de alface foram num carrinho de mão. Seu Joaquim vive com a família há cerca de 2 quilômetros da sede do município de Cordeiros. Levava alface para vender no sábado, e às vezes também na sexta, na feira livre da cidade. Com o dinheiro das vendas comprava o essencial para as despesas da família e às vezes até sobrava para comprar a carne.

Seu Joaquim começou então a trabalhar alguns dias fora da sua propriedade e os outros dias da semana trabalhava em sua horta. Foi aos poucos adquirindo conhecimento com as experiências de outros agricultores, e somado ao conhecimento que já tinha, pouco a pouco foi aumentando a produção, conseguindo sair da venda do dia de trabalho, reformou a casa e conquistou mais tecnologias para ampliar a produção.

O local onde Seu Joaquim faz os cultivos está há quase um quilômetro de distância de sua residência. Quem visita a propriedade fica logo encantado! Mesmo em um ano de chuvas escassas, como o que estamos atravessando, a produção enche os olhos, e o coração é preenchido pelo entusiasmo e pela boa proza cheia de sabedoria deste agricultor, que com orgulho nos apresenta seu quintal produtivo. Cada coisa plantada tem uma história, uma experiência vivida, e muitos ensinamentos:

_ “Apesar de que estamos vivendo um tempo muito seco, a gente não pode abaixar a cabeça e dizer que não vai produzir porque não tem água. Se não der pra produzir pra vender, produz ao menos para vocês comer. Porque hoje nós estamos morrendo que nem peixe, pela boca, através de produtos contaminados que compramos no mercado, cheio de agrotóxico, trabalhado de todo jeito, ninguém sabe como. Aquilo que você produz na sua roça você tem a consciência de alimentar a sua família, alimentar um vizinho, sem enganar a ninguém, porque você pode enganar ao homem, mas não engana a Deus”.  E aconselha aos agricultores: “a roça pode não enricar, mas não deixa sua dispensa vazia.”

O viveiro de mudas. | Foto: Santina André

A pequena produção de hortaliças ganhou força com a chegada do PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável) implantado em 2012, ampliando o quintal produtivo  e a renda familiar. Com a ajuda de Dona Carmezinda, do filho Helinaldo, braço direito de Seu Joaquim na lida com as hortas, e da pequena Carine, o cultivo foi se ampliando em tamanho e diversificando. Em uma área de um pouco mais de 01 hectare, irrigada com água de um poço, são cultivados alface, coentro, cebolinha, cenoura, beterraba, berinjela, almeirão, pimentão, maxixe, jiló, mamão, cebola de cabeça, alho, pimenta, maracujá, urucum, quiabo e abóbora, todos cultivados de forma agroecológica, sem fazer queimadas, sem usar veneno. A adubação e a defesa das plantas é feita utilizando o composto orgânico ventilado, o biofertilizante e os repelentes naturais feitos pelo próprio Seu Joaquim.

Integrada à produção de hortaliças, a família cria aves: são 35 galinhas poedeiras que produzem em média de 15 a 20 ovos por dia, com alimentação natural. Toda a produção é escoada: parte é vendida na própria horta e o restante na feira livre, gerando uma renda semanal de R$ 180,00 (cento e oitenta reais).

Para dar um reforço na produção, Seu Joaquim e a família foram contemplados neste ano de 2013 pelo Projeto Mais Água executado pela Associação Divina Providência em parceria com o Governo da Bahia, através da SEDES (Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza), e na unidade familiar foi escavado um barreiro-trincheira, o que ajudará a Seu Joaquim e sua família a manter o cultivo de hortaliças, mesmo no período de estiagem.

Assim, Seu Joaquim e sua família continuarão a praticar e viver um jeito de produzir que faz bem para a terra, para quem produz e para os consumidores, e partilhando sua sabedoria com outros agricultores. Isto é Agroecologia, isto é Convivência com o Semiárido!
                              
                                     

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