Tecnologia comunitária é única fonte de água doce para família de Luís Magno e Fátima
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Uma situação “um pouco precária”. É assim que Luís Magno de Oliveira (24), morador da comunidade Mucambo, em Riachão do Jacuípe (BA), define como está vivendo este período de seca. Ele e sua esposa, Fátima Santos de Jesus, é uma das 11 famílias da comunidade que não possui nenhuma tecnologia de convivência na sua propriedade, mas se beneficia com uma tecnologia comunitária – a bomba d´água popular, instalada no poço artesiano de Mucambo pela ASA em 2010.
“O poço é a única fonte de água doce da comunidade e que está servindo a muita gente. Tem hora que junta mais de 50 pessoas”, assegura Abelmanto Carneiro, sócio e ex-presidente da Associação Comunitária Mucambo. “A água é doce, mas não se tem conhecimento se é potável. As pessoas estão usando para beber, mas não conseguimos ainda fazer exames para verificar se está contaminada com algum metal pesado”, continua. Ao contrário da família de Luís e Fátima, Abelmanto possui três tecnologias de armazenamento de água e consegue superar melhor as dificuldades que a estiagem traz.
Em dias alternados, Luís e Fátima abastecem seu filtro com água do poço que fica cerca de 200 metros de casa. O casal filtra a água para beber e quando tem hipoclorito doado pela agente comunitário de saúde eles também adicionam no filtro para matar bactérias. “Aqui na comunidade, quase todo mundo se abastece neste poço atualmente”, diz Luís.
A vazão do poço é de 500 a 800 milímetros por hora e a orientação dada pela Associação é racionar a água para saciar a necessidade de todos. “Tem gente que vai de madrugada para encontrar água”, afirma Abelmanto dando conta do estado de vigília que a escassez de água submete as pessoas. “Na seca, o trabalho aumenta por conta da dificuldade de pegar água”, assegura Luís Magno respondendo a pergunta do que mudou na vida deles com a estiagem.
Agricultor familiar no Semiárido, Luís Magno não cultiva hortas em dias de chuva, nem cria animais. Em tempos molhados, o seu roçado se resume a plantios de sequeiro. “Mais feijão e menos milho”, conta ele. Para conseguir o sustento, Luís Magno vende sua mão de obra para outros. Em tempos secos, quando nem as culturas acostumadas a vingar com pouca água dão resultado, o seu trabalho se resume ao de diarista.
Este ano, ele e mais quatro pessoas da sua comunidade estão trabalhando numa grande propriedade de terra próxima à sua casa. Luís Magno tem como responsabilidade alimentar o gado. Essa é a força de trabalho que anos antes seguia para os centros urbanos, no fenômeno conhecido como êxodo rural, e que provocava verdadeiras romarias de sertanejos. Hoje esse movimento, apesar de não ter desaparecido, é bem menos intenso do que nas grandes secas de décadas atrás.
Perguntado sobre seu sonho, Luís anuncia algo simples e essencial à vida: acesso à água potável da chuva captada em cisternas. “Essa água permite que a gente sobreviva na própria comunidade”, afirma com autoridade de sertanejo.