A construção do conhecimento pela garantia de um Semiárido digno

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Na comunidade Lagoa de Estevão, zona rural do município de Belo Campo, no Semiárido baiano, as ações voltadas para a convivência com o Semiárido são sempre bem vindas. Além de conhecer as práticas de estocagem de água para consumo humano e para produzir alimentos, as famílias de Lagoa de Estevão poderão viver uma nova experiência: a construção de conhecimento através do Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER).

O ATER ou construção de conhecimento  é uma reivindicação histórica dos movimentos de luta pela terra. Uma vez que seja viabilizado o acesso à informação que valorize o campo e compreenda suas demandas, agricultoras e agricultores podem refletir sobre suas práticas, além de fortalecer a agricultura familiar através dos princípios agroecológicos.

Para tanto, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e todas suas entidades gestoras, assim como o Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia (CEDASB), estão trilhando os primeiros passos rumo a esta terceira linha de atuação, através das chamadas de ATER. Na região, a equipe técnica de ATER/CEDASB desenvolvem suas atividades em dois lotes em Barra do Choça, Belo Campo, Caraíbas e Cândido Sales e no lote 68 em Nova Canaã, Iguaí, Ibicuí, Potiraguá, Itambé e Caatiba.
 O fundamental em executar esta política é partilhar e trocar experiências entre a equipe técnica e a comunidade agrícola dentro de um processo participativo. Antes de iniciar as visitas técnicas, todos devem integrar momentos de debate e reflexão conhecidos como “Dia de Campo”, que pretendem atender as demandas locais de cada comunidade.

Construindo saberes
Sob o tema “Políticas Públicas e Princípios Agroecológicos”, todos moradores de Lagoa de Estevão puderam refletir e discutir as condições da comunidade e mais, como melhorar a realidade camponesa por meio de alternativas de financiamento, crédito e práticas novas de plantio e manejo baseadas na Agroecologia.

Em novembro do ano de 2012, apesar da seca, muitos plantaram, mas nunca colheram, devido à falta de informação e exercício de convivência com o clima.“Todo esse desperdício acontece porque a gente não teve acesso [à informação]. Primeiro tem que estar preparado para luta”, comentou seu Manoel de Prado, compreendendo que a falta de incentivo e partilha de saberes atrapalhou muito a comunidade rural. Para ele, a organização da comunidade é fundamental no empoderamento das políticas públicas que podem garantir ao agricultor e agricultora os seus direitos.

Seu Arlindo Rocha, tradicional agricultor da região, já acompanha os trabalhos junto à ASA há alguns anos e também acredita que através da união, as comunidades podem sim conviver com sua terra e ter bons frutos. “É preciso acreditar em quem tá dentro de casa também, fazer reuniões e discutir tudo que vimos hoje”.

Além de conhecerem políticas públicas específicas para o campo, as famílias também discutiram princípios agroecológicos, e já pensam a superação dos velhos modos de plantio e colheita do agronegócio. “A gente colocou umas palhas em uma parte da terra, e no lugar onde estava o milho nasceu maior e mais verde”, partilhou Alice Rocha, filha de seu Arlindo, sobre a prática de cobertura para a manutenção da fertilidade do solo realizada no seu quintal.

Com as primeiras experiências agroecológicas, Alice acredita na agroecologia e pretende colocá-la em ação junto à equipe técnica do ATER. “Temos de perder o medo”, conclui.
Após a produção do biogeo, fertilizante à base de esterco e água que fortalece a plantação sem necessidade de agrotóxico, a comunidade pode debater e entender os princípios básicos da agroecologia, que está baseada na vida e no respeito à terra.

Ao fim de um Dia de Campo, seu José, também agricultor de Lagoa de Estevão, já está animado em acolher novas experiências agroecológicas que estão por vir, saindo com a certeza de que o respeito aos insetos, animais do solo e à vegetação típica do Semiárido são fundamentais a uma convivência harmoniosa e digna. Para ele, sua compreensão sobre Agroecologia é simples e unânime, nunca destruir as formas de vida naturais, pois estas são “as veias da terra”

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