Comunidade supera estiagem e comemora Festa da Colheita

Agricultores/as de Ipueiras produzem alimentos livres de agrotóxicos para a feira do município | Foto: Monyse Ravena

Quiterianópolis. Sertão dos Inhamuns, no Ceará. Um dos municípios mais  afetados pela estiagem que já atravessa seu terceiro ano. Talvez esse tenha sido o município mais mostrado pelos meios de comunicação como retrato dos efeitos da seca. Infelizmente, a comunicação convencional não ultrapassa a superficialidade, o que está à mostra.

É nesse mesmo município que se localiza a comunidade de Ipueiras. Nessa comunidade, sobretudo as mulheres cultivam, colhem e beneficiam uma grande quantidade de alimentos com base nos princípios da agroecologia e da convivência com o Semiárido. Mesmo nesses anos de seca, as famílias conseguiram produzir alimentos para consumo próprio e também para comercializar nas Feiras da Agricultura Familiar, que acontecem todos os sábados no centro do município.

É a fartura que brota dos quintais produtivos e das mandalas espalhadas pelas comunidades, muitas margeadas pelo Rio Poty, que se apresentam nas feiras para os consumidores do município e de cidades vizinhas. Por conta de tudo isso, ano após ano, os agricultores e agricultoras celebram a Colheita, um dia que mistura cheiros e sabores, um pouco trazido de cada casa.

Esse ano de 2013, no município de Quiterianópolis, a Festa da Colheita vai acontecer no domingo dia 07, na comunidade de Ipueiras. Vai ser um dia de festa, alegria e, principalmente, fartura. É dia de agradecer pela chuva que veio, apesar de pouca e pela solidariedade diária. É dia também de celebrar as delícias de viver em comunidade.

Produção de Hortaliças em Quiterianópolis / Foto: Monyse Ravena

Uma Festa de Cheiros, cores e sabores –
Existem registros da Festa da Colheita já no Antigo Testamento, lá ela era chamada de Festa de Pentecostes. A colheita da uva e a transformação dela em vinho eram celebradas pelo povo hebreu. A Festa da Colheita sempre foi uma celebração comunitária, realizada na roça. Assim também acontece hoje nos Sertões. A celebração da colheita ensina, na prática, a confraternizar entre os iguais, a repartir com todos e todas os frutos e também a agradecer.

A Festa da Colheita é o momento em que, por meio dos frutos do trabalho do homem e da mulher, mesmo nesse ano de seca, celebrar a colheita de milho, feijão, batata, abóbora, melancia e a generosidade da natureza, agradecendo por essa conquista importante, que é produzir o próprio alimento. Dentro desse propósito, acontece dia 07 de julho, na comunidade de Ipueiras, a 6 km de Quiterianópolis, a 3ª. Festa da Colheita. As duas anteriores aconteceram na comunidade de São Gonçalo, no mesmo município. Pretende-se dessa forma sociabilizar conhecimentos e informações e criar laços de afeto e amizade entre as famílias das diferentes comunidades do município. É também o momento de cultivar o espírito de partilha entre os participantes da festa.

Ao mesmo tempo em que a festa objetiva o agradecimento a Deus pelo fruto da colheita também promove a reflexão sobre as dificuldades presentes no cotidiano dos (as) trabalhadores (as) do campo. Reflete essa realidade e ao mesmo tempo organiza esse povo para que permaneçam em suas terras e exijam políticas públicas a fim de que haja cada vez mais população no campo e a convivência com semiárido de forma harmoniosa.

No Estado do Ceará, entre os meses de junho e julho, a realização das Festas da Colheita são muito comuns em todas as regiões do estado. Atualmente, além da colheita, celebra-se também as sementes crioulas.

A organização da festa em Quiterianópolis é uma iniciativa da Associação dos Agricultores Familiares dos Quintais produtivos de Quiterianópolis, composta por 17 agricultores e agricultoras familiares. Tem o apoio do STTR, Cáritas de Crateús e o poder público do município.

A programação do evento terá início às 8h da manhã com a celebração de agradecimento. Ao meio-dia, acontece a confraternização, com oalmoço comunitário. Às 14hs está prevista a inauguração da sede da associação. Outro momento forte é a inauguração da casa de sementes comunitária.