ASA inicia planejamento para enraizar e ampliar de sua estratégia de ação
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Representantes das ASAs Estaduais debatem os novos rumos da rede | Foto: Neto Santos |
Em 13 anos de trajetória, a Articulação no Semi-árido (ASA) vivencia um momento especial que pede por ampliação de sua estratégia de ação. Para onde ir? O que fazer de novo que reforce a defesa e a prática da convivência com o Semiárido e de um direito humano essencial à vida: o acesso à água pelas famílias do Semiárido brasileiro? Essas são as perguntas que motivam as reflexões entre os 70 representantes das ASAs estaduais, que compõem uma das instâncias deliberativas da Articulação, a Coordenação Executiva Ampliada.
O encontro, iniciado desde quarta-feira (11), em Moreno, município da Região Metropolitana do Recife, encerrou-se nesta sexta-feira (13) com uma missão para os representantes estaduais ampliarem as discussões sobre os novos rumos da ASA nos seus estados. Depois do debate amadurecido nos estados, as propostas elaboradas serão consolidadas e legitimadas no mais importante fórum de decisões da rede: o Encontro Nacional da ASA (Enconasa), que acontecerá em novembro, em Minas Gerais.
Contexto político – A necessidade de ampliar a estratégia de intervenção é percebida quando se olha para a disputa de poder entre os que defendem o direito a uma vida digna para os povos que estão na invisibilidade – famílias agricultoras e populações tradicionais – e os que defendem o agronegócio, um modelo de desenvolvimento pautado apenas na dimensão econômica de acumulação de riquezas em detrimento de um desenvolvimento que abrace também as dimensões sociais e ambientais.
A consciência de que esta disputa de poder é desigual está bem presente nas falas dos participantes. E isso gera o sentimento de que é preciso fazer mais, avançar nas conquistas, reforçar a luta dos movimentos sociais. “Vivenciamos um dilema duro que é viver num modelo de desenvolvimento que não nos cabe e que nos expulsa”, explicita José Procópio Lucena, membro da Coordenação Executiva da ASA pelo estado do Rio Grande do Norte.
“No Semiárido, temos visto a extração mineral na maioria dos territórios, a expansão da soja, do eucalipto, os perímetros irrigados. A força do poder econômico é muito forte e sua hegemonia tende a crescer porque tem muita influencia política”, ressalta Luciano Marçal, um dos representantes da ASA Paraíba. Outro elemento trazido por Luciano é a mudança na relação entre governo e sociedade civil que acontece desde o segundo mandato de Lula e que na gestão de Dilma sofreu grande desgaste de sua imagem. “Os movimentos sociais estão fragilizados, criminalizados e vêm perdendo forças”, acrescenta ele.
“Apesar disto, a ASA desponta como uma articulação com grande poder de mobilização social”, continua, fazendo referência ao ato público realizado pela rede, em dezembro passado, que levou cerca de 15 mil pessoas dos 10 estados do Semiárido para as ruas de Petrolina e Juazeiro. “Por que conseguimos mobilizar tanta gente? O que trazemos de novo?”, questiona Luciano.
Diferencial da ASA – Para Luciano, a inovação da ASA consiste na sua metodologia que valoriza o conhecimento das famílias agricultoras e que baseia a sua ação a partir das práticas, lutas, conquistas e da necessidade concreta de quem vive no Semiárido. O reconhecimento da importância do processo metodológico desenvolvido pela ASA é comungado também por Naidison Quintella, membro da CE pela Bahia. “A nossa identidade é ter o pé no chão das comunidades. E não podemos perder de vista o que somos”, destaca.
Na sua fala, Naidison reforça alguns elementos apontados por diversas pessoas durante a manhã de hoje que revelam caminhos possíveis para a ASA “aprumar seu barco” e seguir em frente, escrevendo outro capítulo de sua história. Um deles, que está bem presente nos discursos, é que a convivência com o Semiárido não consiste apenas em cisternas, mas sua lógica está fincada na cultura da estocagem, seja da água, das sementes, dos alimentos para os animais.
“Precisamos plenificar a dimensão de convivência. Como vamos lidar com o conjunto de fatores que tem a ver com este paradigma: alimentação escolar, rede de sementes, assistência técnica com base agroecológica, educação contextualizada? Apesar destes elementos serem trabalhados pelas organizações da rede ASA, eles não são assumidas e ampliadas enquanto rede”, reconhece Naidison.