Fórum Cearense defende projeto de convivência em reunião com SDA
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Representantes do Fórum Cearense defenderam a continuidade da construção de cisternas de placas no estado | Foto: Rosa Nascimento |
Depois da mobilização em defesa da convivência com o Semiárido, que ocorreu no dia 22 de março, em Fortaleza (CE), também em comemoração ao Dia Mundial da Água, uma comissão com representação das nove microrregiões do Ceará participou de uma audiência com o secretário estadual de Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins.
A audiência teve como pauta a importância das cisternas de placas e a posição do Fórum Cearense pela Vida no Semi-Árido (FCVSA), instância que representa a ASA no Ceará, em relação às 14 mil cisternas de polietileno (PVC) que serão instaladas no estado. As discussões começaram com uma reflexão feita pelo coordenador do Fórum e da Cáritas Regional Ceará, Alessandro Nunes.
“A gente tem trabalhado fortemente na perspectiva de construir o paradigma da convivência com o Semiárido na nossa região, fazendo um contraponto com o combate à seca”, disse Alessandro referindo-se às ações do Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido da ASA, que se divide nos programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
O coordenador ressaltou a importância dos programas na construção de políticas importantes para a convivência com o Semiárido e comentou a decisão do governo de instalar cisternas de polietileno (PVC). “Estamos trabalhando processos educativos, processos de cidadania e quando a gente trabalha nessa perspectiva das cisternas de plástico, que é de distribuição e não de construção, isso tira sujeitos importantes do processo”, afirmou.
Do ponto de vista econômico, Alessandro também ressaltou a diferença de valor das duas cisternas. “A de placa a gente constrói com dois mil reais e ainda traz retorno para a economia local enquanto que a de plástico está em torno de cinco mil. Além do custo não acreditamos que a cisterna de plástico acelera o processo de construção”, destaca Alessandro.
Alguns pedreiros que participaram da audiência também reforçaram a importância das cisternas de placas para a região. “A cisterna de placa é durável porque é construída com cimento e amarrada com arame galvanizado”, disse o pedreiro Francisco Junior, da região jaguaribana. Outros também se mostraram preocupados em perder o emprego, já que, vindo prontas, as cisternas de plástico não necessitam de mão de obra local. “Vamos ficar desempregados”, lamentou o pedreiro Francisco Rodrigues Neto.
Zé Pereira, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece), fez uma memória dos tempos de escassez de água na região. “Crescemos apanhando água de cacimba, vivendo no Sertão do Semiárido sem nenhuma política pública apropriada. Uma das mais eficientes e reconhecidas por todos é a cisterna de placa. Ela veio de uma maneira que inclui a sociedade de modo geral”, ressaltou.
O secretário Nelson Martins disse considerar os argumentos utilizados pelas instituições, assim como o trabalho que vem sendo feito pela ASA em parceria com o governo e destacou que a instalação de cisternas de plástico faz parte de uma decisão política nacional.
“Vamos fazer um convênio com o Ministério da Integração. Com a liberação de outros projetos veio o convênio que inclui 14.228 cisternas de polietileno. Não tenho condição como gestor público de dizer que não quero essas ações a não ser que seja uma decisão institucional”, disse. “Respeito à decisão de vocês de não participar do processo e me disponho a voltar a conversar mais sobre isso”, ponderou.
Cristina Nascimento, da coordenação da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) solicitou uma audiência pública com o governador do estado e confirmou a não participação da ASA na distribuição das cisternas de plástico. “Nós queremos manter o diálogo e a participação no processo. Acreditamos e defendemos o projeto da convivência com o Semiárido, que fortalece as comunidades, traz cidadania e autonomia para as famílias”, ressaltou.